terça-feira, 10 de maio de 2011

A rivalidade Norte-Sul não é recente nem exclusiva do futebol

«Lisboa é a capital e o resto é paisagem»
Era este o «slogan» que durante muitos anos se ouvia, quando os lisboetas queriam, muitas vezes sem espírito de malidicência, menorizar as gentes e as terras do Norte do País.
Hoje, felizmente, tudo mudou e começam a ser muito raras as pessoas que se recordam ou utilizam esta frase. Mas nem sempre foi assim e, não nos dispensamos a dar um exemplo bem esclarecedor, no campo do radioamadorismo.
No após-segunda guerra e no intuíto de alargar a sua área de influência, o que ainda hoje acontece, a direcção da Rede dos Emissores Portugueses (associação a que todos os radioamadores eram obrigados a ser sócios sob pena de não poderem praticar a modalidade) decidiu aceitar o pedido de alguns radioamadores da cidade do Porto e não só, para ali estabelecerem uma delegação, no intuíto de em «su sítio», trocarem ideias e tomarem as atitudes de conjunto mais convenientes na defesa da modalidade e obterem as benesses que eram um exclusivo dos radioamadores da capital.
A sede, nos Finianos, ao lado da Câmara Municipal, começou a ser o palco de uma organização, que mercê do entusiasmo - os aderentes contava-se pelo número de radioamadores daquela região -  que as gentes do Norte sempre põem nas suas iniciativas, com relevância no poder reivindicativo, que o número de associados dava corpo.
Era evidente que a união e comunhão de interesses, o trabalho desenvolvido e os resultados obtidos, começaram a fazer mossa na urbe de radioamadores da capital que entretidos em discussões estéreis e mais viradas para o foro pessoal em detrimento do colectivo, começaram a ver o terreno a fugir-lhes e a sua pseudo autoridade a diluir-se face à investida da delegação nortenha que exigia trabalho e acção na luta pelo lugar que lhes competia, por direito, junto das autoridades que superientendiam na modalidade.
As divergências começaram a vir ao de cima, a falta de resposta do poder central começou a causar algum desconforto e a rotura começava a vislumbrar-se.
O inevitável aconteceu... Por ordem da mesma direcção que havia criado a delegação veio a intimação ao seu encerramento.
Alguns radioamadores ainda tentaram resistir mas, era facto consumado. Nada se poderia fazer. O poder estava do lado dos colegas da capital.
Durante décadas o Norte e o Sul estiveram divididos, uma divisão que se reflectia no alheamento completo. Só a obrigatoriedade de ser sócio da REP mantinha uma aparente união, que só foi evidente após o decreto que viabilizou a liberdade de associação.
O Porto, pela mão do seu mais prestigiado radioamador, criava a Associação dos Radioamadores Portugueses, lutando, em campo aberto, pela representação nacional, o que só não foi obtida por intervenção, de um outro não menos influente radioamador de Lisboa, que se disponibilizou para defender os interesses da REP, deslocando-se pessoalmente à sede da organização internacional, o que aconteceu pela primeira vez, em quase 50 anos de existência como associação nacional.
A título de simples apontamento, lamentamos que aquele prestigiado radioamador que durante mais de duas décadas foi o «salvador» da REP, evitando a sua extinção, por mais que uma vez, seja hoje vítima de meia dúzia de recém-chegados àquela instituição, levando-o, pelo menos nas aparências, ao alheamento da obra que conseguiu fazer, a expensas suas e, algumas vezes, a seu pedido, de alguns colegas e amigos.
O mundo é muitas vezes ingrato para aqueles que conseguem fazer obra.
A título meramente informativo, para que não se façam juízos errados de valor, posso adiantar que muito embora reconheça o valor da obra feita, porque essa não se pode esconder, não me revejo nela, muito pelo contrário, tendo estado quase sempre do outro lado da barricada, o que não é de estranhar, na medida em que estando no radioamadorismo há mais de meio século, senti na pele, primeiro a obrigatoriedade e a prepotência e depois a falta de iniciativa e a obstrução constante a quem lutava para tornar a actividade mais democrática e mais prestigiada.
A «sexta-feira santa» é o exemplo acabado de como é o fim daqueles que um dia ousaram fazer obra...
  

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