quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Elementos para a História do Radioamadorismo - 1982

Publicação feita em 1982, para ser distribuída na Exposição «70 Anos ao Serviço da Humanidade e das Telecomunicações – 1912-1982», edição que só foi possível por gentileza da Junta de Freguesia da Venteira do Concelho da Amadora. Recolha de texto de Nelson Ferreira Alves, CT1MV, na sua maior parte cedidos pelo Dr. Rocha Souto, ex-CT1VP, e na altura da publicação, CT0239
ASSOCIAÇÃO DE RADIOAMADORES DA AMADORA-SINTRA
ARAS
Rua Primeiro de Dezembro, 54, 3.º-Esq.
2700 AMADORA

ELEMENTOS PARA A HISTÓRIA
DO RADIOAMADORISMO

1912/1982


Ao publicarmos os elementos de que dispomos temos a noção exacta de não levarmos ao vosso conhecimento um trabalho exaustivo de pesquisa e estudo dos documentos que nos foram presentes.
Consideramos, no entanto, que este trabalho pode constituir um incentivo a futuras realizações melhores do que esta.
Nunca foi nossa pretensão constituir no Radioamadorismo um exclusivo.
Para a A.R.A.S. qualquer iniciativa, parta de quem quer que seja, que prestigie o Radioamadorismo Nacional, merece o respeito e o elogio de acordo com o valor reconhecido.
Resta-nos agradecer ao Sr. Dr. Rocha Souto a cedência do estudo que tem feito acerca das nossas lides, bem como a todos quantos possibilitaram esta iniciativa que esperamos venha a ser aproveitado para um melhor desenvolvimento do que sempre consideramos ser uma fonte inesgotável a explorar.
Queremos deixar aqui o nosso repúdio pelo espírito inventivo de alguns e oportunismo de outros, que jogando nitidamente com a ignorância da esmagadora maioria dos nossos colegas, tentam deturpar os acontecimentos e branquear algumas situações, que embora não prestigiem os seus autores, são indubitavelmente parte integrante da História, que deverá ser sempre fruto de investigação aturada desaguando numa objectiva, independente e documentada conclusão.






ASSOCIAÇAO DE RADIOAMADORES DA AMADORA-SINTRA

ELEMENTOS PARA A HISTÓRIA DO RADIOAMADORISMO PORTUGUÊS


1982 — 70 ANOS DO RADIOAMADORISMO PORTUGUÊS

Encontra-se por escrever, ainda, a História do Radioarnadorismo Nacional, e, apesar de a sua investigação me vir dedicando, não poderia, como e óbvio, confinar nos escassos limites de um simples artigo todos os significativos e patrióticos acontecimentos que integram unia narrativa pormenorizada do progresso do Radioamadorismo em Portugal
No entanto, e sem pretensões de procurar descrever propriamente, a Historia da Rádio no nosso País, não quero deixar de reunir, ainda que num breve resumo, alguns apontamentos.
O Radioamadorismo Nacional surgiu, como é do conhecimento geral, em consequência do progresso das comunicações de Telegrafia Sem Fios, verificado em todos os países civilizados, e sobretudo na Itália, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos da América do Norte, França e Rússia, nos princípios deste século.
Dois acontecimentos dramáticos tiveram, porém, uma importância decisiva, e de natureza psicológica, na determinação de todos os Governos de adoptarem as mais eficazes medidas na instalação da T.S.F. para as comunicações entre a costa e os navios no alto mar, e para a comunicação dos mesmos entre si.
Com efeito, ainda hoje se recorda a importância que a T.S.F. assumiu no salvamento de vidas, aquando do naufrágio do "Titanic’’, em Abril de 1912, e do"Volturno’’, em Outubro de 1913.
No primeiro caso ficou a dever-se a Telegrafia Sem Fios o salvamento de mais de 700 vidas, e no segundo salvaram-se, graças a ela, quase 500 pessoas.
Conforme bem o refere o Prof. R. J. de Darkness, no vol. 2.º, de seu ‘Manual de Rádio", publicado em Barcelona em Dezembro de 1952, a impressionante tragédia do "Titanic", em 1912, — se bem que não fosse o primeiro caso de salvamento de vidas em sinistro marítimo — comoveu profundamente a opinião pública, e induziu os Governos dos diversos países a tomarem as máximas medidas de precaução, para salvaguarda das vidas dos passageiros no alto mar.
Assim, não admira que o primeiro Radioamador Português de que conheço documentação publicada tenha sido precisamente um operador Rádio Naval — o Sr. Alberto Carlos de 0liveira, já falecido em Lisboa, em 1953.
Este primeiro Radioamador Português, no período dificílimo da 2.ª Guerra Mundial, e com ele começou o Radioamadorismo Português, documentalmente, em 1916, e logo com uma acção histórica de carácter internacional, de que não encontro segundo exemplo na História do Radioamadorismno de todo o mundo: a do auxílio, por um simples Radioamador, a toda uma Esquadra de Guerra, e da mais famosa e potente Armada do mundo — a da poderosa Inglaterra, Rainha dos Mares...

ALBERTO CARLOS DE OLIVEIRA, O 1.º RADIOAMADOR NACIONAL:

Apesar de haver começado sua actividades de Radioamador algum tempo antes da deflagração da 1.ª Grande Guerra, de 19l4, em data que não ficou infelizmente assinalada com precisão, — a primeira acção de Alberto Carlos de Oliveira de que encontro documentação histórica foi o estabelecimento das comunicações entre a Esquadra Britânica do Atlântico Sul, e o Almirantado de Londres, em 1916, durante a Grande Guerra, e, por conseguinte, há precisamente meio século...
Este honroso acontecimento inicial do Radioamadorismo Português tem sido devidamente enaltecido, e encontra-se publicado, designadamente, no "Anuário Radiofónico Português’, editado em 1937.
Nesse trabalho, os seus autores, Sr. João de Morais Palmeiro e Manuel Antunes, esboçaram um breve ensaio sobre a Historia do Radioamadorismo Português, em que textualmente explicam:
«...é justo acentuar CT1DX, decano dos Emissores Portugueses, Amador distintíssimo, cujos valiosos serviços foram aproveitados pela Esquadra Britânica, que, em 1916, durante a Grande Guerra, patrulhava o Atlântico Sul. CTlDX, ao tempo em Cabo Verde"diz ainda o mesmo "Anuário" — "efectuou durante muitos meses a ligação entre aquela Esquadra, cujas estações radiotelegráficas tinham um alcance diminuto, e o Almirantado Inglês, em Londres."
"Por esse motivo foi CT1DX alvo de honrosos louvores do ‘Foreiqn Offíce."
"Citando este exemplo" — concluiu o ‘‘Anuário Radiofónico" de 1937 — ‘‘mais não pretendemos que mostrar quanto pode ser útil ao País a actividade dos Amadores de Rádio-Emissão, quando devidamente aproveitada e orientada.
Vejamos, porém um pouco mais sobre a história de CT1DX, na medida em que Alberto Carlos de Oliveira constitui, a bem dizer, o começo do Radioamadorismo Nacional.

CT1DX EM CABO VERDE, MADEIRA E CONTINENTE~

Como não existe ainda uma monografia desenvolvida sobre a História do Radioamadorismo em Portugal, não se me tornou fácil reunir um maior número de elementos sobre o começo das actividades de CT1DX.
Alberto Carlos de Oliveira começou suas emissões em Cabo Verde, pouco antes de 1914, com um emissor telegráfico de amador, com oscilador de faísca, realizando inúmeras comunicações com navios no alto-mar.
O seu indicativo era então diverso do que depois teve na Madeira e no Continente, e ignoro qual então fosse. ‘Em 1929, no primeiro número de "Rádio Ciência", vinham o seu indicativo e morada: CT3CO, Caixa Postal 56, no Funchal, e no Continente foi CT1DX, até ao seu regresso à Madeira, a onde, pelo "Boletim’’ da "Rede", de Maio de 19147, se verifica ter deixado a emissão, e residir no Hotel Golden Gate, no Funchal.
Sei que antes da organização da ‘‘Rede dos Emissores Portugueses" os nossos Radioamadores utilizaram indicativos como P1, significando possivelmente Estação Portuguesa, mas; o certo é que os prefixos internacionais atribuídos a Portugal e Colónias já então eram, em 1916, CRA a CTZ.
É o que consta, por exemplo, do volume "Curso de Telegrafia Sem Fios’’, publicado em Lisboa em 1916.
Os Amadores escolhiam, por vezes, indicativos com as suas iniciais, e, assim, presumo, que CT3CO fosse relacionado com "C" de Carlos e "O" de Oliveira.
Em 19114, quando deflagrou a Primeira Grande Guerra, Alberto Carlos de Oliveira passou a prestar serviço ao Estado, exercendo vigilância sobre os navios fundeados no porto de São Vicente de Cabo Verde, e estabelecendo comunicações radiotelegráficas entre o Governo e as unidades em serviço naquela Colónia.
Ao mesmo tempo, e devidamente autorizado, passou a prestar igualmente serviço à Inglaterra, transmitindo os telegramas que vinham pela cidade do Cabo, à Esquadra do Atlântico, e desta para o Almirantado Britânico de Londres, via cidade do Cabo da Boa Esperança.
Em 1917, quando era mais intensa a guerra submarina por parte da Alemanha, guerra total e sem restrições, Alberto Carlos de Oliveira, tendo conhecimento, pelo Governador, de que o telegrafista de bordo de um paquete, navio que transportava centenas de pessoas, se encontrava gravemente doente, e pedindo o mesmo Governador um voluntário para a sua substituição — foi CT1DX imediatamente expontâneo em embarcar voluntariamente para tão arriscado serviço, pois a cabina dos telegrafistas era, em 1917, o primeiro alvo das peças dos submarinos alemães...
A viagem durou primeiramente oito dias, e depois mais nove, ainda, no regresso, sempre como operador da T.S.F.
Em 1920, Alberto Carlos de Oliveira, foi transferido para o Arquipélago da Madeira, onde recomeçou seus trabalhos de Radioamador em 1925, mas já então com emissor de lâmpadas, e em ondas extra-curtas.
Realizou comunicações com os cinco Continentes, ou com os seis – à americana — e obteve assim o Diploma Internacional denominado W.A.C.
Em 1930 foi transferido para o Continente, e em Novembro de 1931 montou o respectivo emissor aqui na Metrópole, actuando durante algum tempo.
Em 1932, "verificando o estado caótico em que se encontrava o Amadorismo Continental", e "na esperança de ver promulgada a Regulamentação Oficial", — como expressamente diz — resolveu encerrar suas actividades, a que depois voltou.
Voltemos, porém, a 1916, e ao começo do Radioamadorismo Português.

O GOSTO PELA TELEGRAFIA SEM FIOS E OS LIVROS DE T. S.F. EM 1916:

Em Portugal, nem mesmo a Grande Guerra de 1914 a 1918 fez perder o grande entusiasmo nascente pela T.S.F. — ainda "Telegrafia Sem Fios".
O Eng. Sr. Luís de Sequeira Oliva Júnior, Engenheiro Mecânico e Electricista, publicava nessa época, no Largo do Corpo Santo, 13 2.º, em Lisboa, a Revista quinzenal intitulada "Electricidade e Mecânica’’, que atingia o seu Volume VII em 1916 — e que galvanizava o entusiasmo a gente moça do tempo, pela "Telegrafia Sem Fios, e pelo... ‘‘Au tomobi1ismo’’
Mais do que hoje sucede, as Revistas de T.S.F. de outrora não deixavam, geralmente, de publicar interessantes volumes em separatas, de divulgação e a preços acessíveis, ensinando, inclusivamente, os Radioamadores a construírem seus próprios aparelhos.
Editada então pelo denominado "Instituto Tecnológico" a Revista ‘‘Electricidade e Mecânica’’ publicou, designadamente em 1916, — durante a própria Grande Guerra — um interessante volume de divulgação, de cerca de 400 páginas, intitulado "Curso de Telegrafia Sem Fios", ou "T.S. F. em 24 Lições."

A RADIOTELEFONIA, E A INVENÇÃO DA RADIODIFUSÃO:

Pelo ano de 1920 surgiu, inventada por um Radioamador Americano, a chamada "Radiodifusão", com a transmissão "Radiotelefónica" de discos, de concertos, de conferências e de notícias — e o Amador de T.S.F., agora já "Telefonia Sem Fios", tanto passou a dedicar-se à emissão radiotelegráfica e radiotelefónica, como, e sobretudo, à construção de aparelhos receptores, que tornassem possível a audição das mais famosas composições musicais, ou a escuta dos, mais importantes noticiários...
Acompanhando esta evolução, funda-se no nosso País a primeira Revista Portuguesa exclusivamente da especialidade, e assim surgem, em publicação semanal, com Redacção e Administração na Rua de Santa Marta, 80 1.º, em Lisboa, o Semanário intitulado ‘‘T.S.F. em Portugal’’.
As livrarias começam a anunciar trabalhos portugueses e estrangeiros sobre T.S.F., e entre tais editoras se destaca a "Parceria António Maria Pereira", publicando em 1925, por exemplo, um trabalho do mesmo Engenheiro Luís de Sequeira Oliva Júnior, intitulado "A Telefonia e a Telegrafia Sem Fios para o Amador", ou "Tratado de Iniciação á TSF».
Era costume, naquele tempo, as obras terem sempre dois títu1os — e a Iniciação à T.S.F., publicada em 1925, em abundante edição, logo se esgotava e voltava a publicar, em segunda edição, em 1929...
Na capa desta obra, uma interessante gravura representava senhoras e cavalheiros, escutando um antigo receptor, de lâmpadas exteriores, e de alto-falante de corneta, em traje de rigor, e com expressões que bem traduzem o interesse e a fascinação que então representava para o Amador a audição da T.S.F. — em 1924.
Em tal obra se anunciavam, quer as lâmpadas de T.S.F. representadas pela ‘‘Rádio Lisboa’’, da Rua Serpa Pinto, 7, quer as então mais importantes obras estrangeiras da especialidade, à venda na "Parceria António Maria Pereira’’, tais como as de Hermardinquer, Clavier, Duroquier, Abbe, Moreaux, Armstrong, Gutton, Branqer, Veaux, Santoni, e tantos outros...
Cresce entre nós o entusiasmo pelo "Senfilismo", e, sobretudo, pela "Telefonia Sem Fios" — e funda-se em Lisboa uma Associação Científica, denominada "Rádio Academia"
A Radiodifusão passa a constituir a principal preocupação dos Amadores Portugueses, e geram-se profundas dissidências no seio desta histórica "Rádio Academia’’, que culminam numa Assembleia Geral Extraordinária, em 30 de Junho de 1925, em que os dissidentes "Gritavam a plenos pulmões’’ — como mais tarde se escreveu numa Revista – "Dissolva-se isto, e garantimos que a Radiodifusão será estabelecida em 48 horas"...
Dissolveu-se a ‘‘Rádio Academia’’, e constituiu-se uma nova Associação, denominada ‘‘Sociedade Portuguesa dos Amadores de T.S.F.’’... Mas parece que os seus resultados também não foram imediatos
Voltemos, porém, agora, primeiro à invenção da ‘‘Radiodifusão’’ e suas repercussões, e, de seguida, à história da primeira Estação de Amador do Continente Português, que foi a do Sr. José Joaquim de Sousa Dias Melo — hoje CT1AB.

UM RADIOAMADOR ORIGINA A RADIODIFUSÃO, EM 1920

A invenção da Radiodifusão — transmissão de música, palestras e noticiários pela Telefonia Sem Fios — atribuiu um cunho muito especial ao Radioamadorismo, não só estrangeiro, como português, de 1920.
Tal característica consistiu, como veremos, no extraordinário desenvolvimento dos Amadores Radioescutas, e no aparecimento de Estações Transmissoras de Radioamador., emitindo programas de música e noticiários, sem qualquer interesse lucrativo ou comercial.
Em todos os países surgiram, portanto, três espécies de Senfilistas: os antigos Emissores experimentais amadores de comunicações; os Emissores amadores da transmissão de música e noticiários; e os Radioescutas, amadores que, na sua grande maioria, construíam eles próprios os respectivos aparelhos receptores de T.S.F.
Vejamos, pois, a história, que é pouco conhecida, do Radioamador Americano que inventou a Radiodifusão, em 1920, (imagem do que, em Portugal, veio a ser a Estação de CT1AA).
Em 1919, o Radioamador Americano Dr. Frank Conrad, mais tarde Assistente Chefe Engenheiro da "Westinghouse Electric and Manufacturing Company", e residente nesse tempo em Wilkinsburg, Pensylvania, nos Estados Unidos da América do Norte, era titular da Estação Emissora de Radioamador 8 XK, consoante os indicativos que então se usavam na América do Norte.
Inventada nos anos anteriores a Radiotelefonia — transmissão modulada da palavra e da música e já não apenas de sinais telegráficos — o Dr. Frank Conrad lembrou-se de instalar na garagem da sua casa o seu Posto Emissor Radiotelefónico, de 75 Watts, 8 XK, com o qual passou a transmitir composições musicais, para outros entusiastas Emissores e Radioescutas em comprimentos de onda inferiores a 100 metros...
Segundo o Professor Universitário Americano Charles Rolo, na sua obra de 1943, com múltiplas edições em Inglaterra, "Radio Go To War" — "A Rádio vai para a Guerra" — foi esta a primeira aplicação da T.S.F. à Radiodifusão — ou seja, à transmissão regular da música, noticiários e passatempos pela Telefonia Sem Fios.
O entusiasmo pelas emissões de música da garagem do Dr. Frank Conrad atingiu em breve uma tal repercussão pública que uma casa comercial, de uma outra cidade, Pittsburhg, passou a fornecer pequenos aparelhos receptores de T.S.F., logo adquiridos por numerosos compradores, e com os quais mais e mais amadores se dedicavam às maravilhas da fascinante escuta dos concertos da casa do Dr. Conrad.
Tal como a utilização do cinema não revelou desde logo as suas maravilhosas, imensas e poderosas possibilidades de aplicação comercial aos irmãos Lumière, e foi o genial talento de Georqes Meliè, em França, o primeiro a descobrir as aplicações sociais e comerciais do extraordinário invento — assim também não foi o entusiasta e generoso Dr. Frank Conrad, como inventor da Radiodifusão segundo o Professor Charles Rolo, o primeiro a explorar suas inesgotáveis possibilidades monetárias.
Este Dr. Frank Conrad era um Radioamador dedicado e entusiasta; mas em breve a ‘‘Westinghouse Compary’ se deu conta do imenso valor da Radiodifusão comercial da ; ideia deste Radiófilo — e assim construiu por sua vez a Estação Emissora KDKA, que foi primeira Estação permanente comercial de Radiodifusão do mundo.
Esta primeira Estação Comercial de Radiodifusão iniciou as suas actividades em 2 de Novembro de 1920, anunciando o resultado das eleições presidenciais Harding-Cox, com a vitória do Presidente Harding, realizadas justamente nessa data, escolhida para a inauguração da Emissora.
Passando, no entanto, à Europa, vejamos qual o panorama da Radiodifusão Europeia em 1920, e como surgiram os primeiros Radioamadores de que tenho notícia, no Continente Português.

REPERCUSSÃO EUROPEIA DA RADIODIFUSÃO, EM 1920.

O Dr. E. H. Chapman, Mestre de Artes pela Universidade de Cambridge, e Doutor em Ciências pela Universidade de Londres, dedica todo um capítulo da sua obra ‘‘Wireless To-Day" — "A Rádio Hoje" — publicada em tradução argentina em 1945, à criação e ao desenvolvimento da Radiodifusão, que por sua vez incluiu extraordinariamente na expansão do Radioamadorismo.
E este autor começa desde logo por afirmar, em tal capítulo, e não obstante a existência da própria Televisão, que "de todas as diferentes aplicações da Radiotelefonia, a Radiodifusão constituiu, sem dúvida, o progresso mais assombroso’’.
Das primeiras experiências da Radiodifusão realizadas em Inglaterra são de notar as transmissões experimentais de programas radiotelefónicos, efectuadas pela Estação propriedade da Companhia Marconi e situada em Chelmsford.
Esta Emissora transmitiu diversos programas de música instrumental e vocal; desde 23 de Fevereiro a 6 de Março de 1920, e no comprimento de onda — adequado às convicções de então — de 2.800 metros...
Não obstante, estes programas chegaram a ser ouvidos a grande distância, recebidos por operadores de navios que se encontravam no alto mar, a 1200 milhas de Chelmsford.
Depois, durante o verão de 1920, Dame Melba e outros famosos artistas executaram extraordinários concertos, irradiados do mesmo modo pela dita Estação Transmissora de Chelmsford, da Companhia Marconi.
Um destes concertos pôde ser executado na Pérsia, e também em Nova lorque.
E outra das mesmas execuções musicais foi captada pela Estação da Torre Eiffel, de Paris, com uma tão notável intensidade que pôde mesmo ser registada fonograficamente...
Em Maio de 1920, também uma Estação Holandesa, de Haia começou por sua vez a transmitir programas de Radiodifusão
Depois, as Estações de Radiodifusão multiplicaram-se extraordinariamente, e em todos os Países se manifestava o maior entusiasmo pelo Radioamadorismo, agora principalmente no sentido da construção e da aquisição de receptores, e do empreendimento de uma rápida solução, a fim de que, em cada Estado, se promovesse a construção de Estações Emissoras destinadas à Radiodifusão.

O RADIOAMADORISMO EM PORTUGAL, E A RADIODIFUSÃO, POR 1920

Sem menosprezar a fundamental importância dos múltiplos progressos da T.S.F. dos princípios deste século, cumpre acentuar neste momento duas invenções vieram tornar mais populares e acessíveis os receptores da Telegrafia e de Telefonia Sem Fios.
Em seu importantíssimo Manual, intitulado "Radio", e publicado em Milão em 1932, o Eng. Ernesto Montu começa a sua exposição sobre Radiotelegrafia e Radiotelefonia dando-nos principalmente um panorama cronológico e exactíssimo de todas as invenções relativas à T.S.F.
Ora, duas delas vieram popularizar a construção dos receptores, e permitir a escuta da telegrafia e da telefonia pela grande maioria dos Amadores: — Trata-se da invenção dos detectores de cristais, que tão utilizada foi nos campos de batalha durante a primeira Grande Guerra de l914 a 19l8.
Inventando em 1900 o detector electrolítico, o Comandante Ferrié — Francês — abrira caminho para o estudo da detecção baseada no contacto de substâncias condutoras de natureza diferente.
Porém, foram as invenções dos detectores de cristais as que mais fizeram expandir, pela sua simplicidade robustez e ausência de necessidade de alimentação eléctrica por pilhas, baterias ou sector, — os aparelhos receptores de T.S.F., e os Radioescutas de todo o mundo.
Em 1906, o Norte-Americano Pichard inventava o detector de silício, patentiava a sua invenção sob o Registo U. S. Patente n.º 836.53l — e, no mesmo ano, um outro cientista Norte-Americano Dunwoody, inventava, por sua vez, o detector de carborundo, e registava sua sob a descrição U.S. Patente n.º 837.616.
As invenções de Pichard e de Dunwoody revolucionaram, de facto, — naquele tempo — as escutas da T.S.F., e em breve o mesmo Eng. Pichard vinha a descobrir, em 1907, o detector de cristal de galena — que foi, como veremos um dos primeiramente utilizados pelos mais antigos Radioamadores Portugueses.
Permitindo a escuta, em auscultadores, quer da Radiotelegrafia, quer da Radiotelefonia, e da Radiodifusão de 1920 –"as galenas" caracterizaram a época de 1907 a 1920, e mantiveram-se, mesmo, perante os progressos das "lâmpadas" de Rádio, até ao aparecimento dos ‘‘transistores’’, bastante tempo depois do termo da Segunda Grande Guerra Mundial.
Voltemos, porém, aos anos de 1916, e ao primeiro Radioamador de que tenho notícia do Continente Português

O PRIMEIRO RADIOAMADOR EMISSOR PORTUGUÊS DO CONTINENTE DE 1925
- HOJE CT1AB

Segundo um interessantíssimo trabalho do Sr. Abílio Rodrigues Júnior publicando numa recente brochura dedicada ao «I ENCONTRO INTERNACIONAL DE RADIOAMADORES", Coimbra, 1966, — titular da Estação CT1ST e incansável investigador da história do Radioamadorismo Português — o primeiro Amador de que há notícia em Lisboa como Emissor-Amador, foi o Sr. José Joaquim de Sousa Dias Melo, hoje titular da Estação CT1AB.
Regressando de França em 1917, dali trouxera o maior entusiasmo pela T.S.F.
Frequentara naquele País uma escola de preparação liceal, nela assistira a experiências práticas de T.S.F., e não mais se desinteressara do "Senfilismo".
Esta referência do Sr. Rodrigues Júnior a demonstrações liceais, sobre T.S.F., em França, antes de 1917, levou-me a procurar mais amplos pormenores documentais, acerca deste entusiasmo cientifico pela T.S.F., que a levaria ao seio do próprio ensino liceal, na grande Nação Francesa.
E, efectivamente, — depois de múltiplas pesquisas, visto que os livros sobre T.S.F., antigos são hoje raros constatei que já em 1914 havia numerosos Radioamadores Franceses, concedendo-se ali indicativos, inclusivamente, a Estabelecimentos de Cultura Liceais.
Na obra "Le Premier Livre de l’Amateur de T.S.F.", diz Joseph Roussel, ja em 5.ª Edição em 1924 — e cuja primeira impressão é de 1921 — verifica-se por exemplo, que 8AE pertencia à Revista "A T.S.F. Moderna", 8AF ao Rádio Clube de França, 8AJ à Sociedade Francesa Radioeléctrica, 8AT ao Reitor do Liceu do Parque, de Lyon, 8BL aos Alunos da Escola Politécnica de Paris, 8DK à Escola Central de Artes e Manufacturas de Paris, etc.
Assim, em Escolas, e até no Liceu no Parque, em Lyon, chegaram a instalar-se Emissores de Amador, para demonstrações aos respectivos alunos...
Ora, em Portugal, era igualmente extraordinário o entusiasmo pela T.S.F., e o já mencionado "Curso de Telegrafia Sem Fios", publicado pela Revista "Electricidade e Mecânica", em 1916 — trazia uma descrição pormenorizada da forma de se construírem todos os aparelhos da T.S.F. daquele tempo, desde o de "detector magnético", ate ao popularíssimo receptor de «galena».
Simplesmente os receptores de "galena" eram ainda — segundo o confirma o Sr. Rodrigues Júnior no seu trabalho — sobremodo raros em 1920, e foi precisamente com a aquisição, de um desses receptores que o Sr. José Joaquim de Sousa Dias Melo, o primeiro Radioamador do Continente Português, começou as suas actividades em 1920.
Mais tarde — quando autorizada, como veremos, em 1925, a emissão por Radioamadores em Portugal — foi do Sr. José Joaquim de Sousa Dias Melo a primeira Estação Transmissora Metropolitana Experimental, situada no Rossio, no edifício do Hotel Continental.
Veremos então como foi que — numa merecida homenagem a um outro distintíssimo Radioamador, ou seja, ao ainda hoje Amador. Abílio Nunes dos Santos, introdutor da Radiodifusão em Portugal, e actual titular do indicativo CT1AA, veio a caber a este o primeiro indicativo do Radioamadorismo Nacional...
Entretanto, tal como vimos que aconteceu com CT1DX, que tanto honrou o Radioamadorismo Português, também o CT1AB constitui um notabilíssimo exemplo do valor dos Amadores Portugueses.
Sem pretender, neste momento escrever a História de mais este pioneiro, sejam-me permitidas, no entanto, algumas considerações, ainda que breves, à forma como CT1AB ainda hoje se dedica às mais interessantes experiências da T.S.F.

O SR. JOSÉ JOAQUIM DE SOUSA DIAS DE MELO

E O PROGRESSO DAS COMUNICAÇÕES

O Sr. Dias Melo começou, como disse, AS suas emissões no edifício do Hotel Continental de Lisboa, com o indicativo PlAB, segundo nos conta o Sr. Rodrigues Júnior.
Na lista de indicativos publicada no N.º 1 da ‘‘Rádio Ciência", de Maio de 1929, vê-se que o seu indicativo era já CT1AB, ao tempo instalado na Rua de Serpa Pinto, N.º 4, em Lisboa.
Actualmente tem sua Estação instalada — como se vê pela "Lista de Indicativos" de Julho de 1965 — na Estrada Velha de Guerreiros, concelho de Loures, próximo de Lisboa.
Ora referindo-se ao "êxito excepcional" de experiências de comunicações em altas-frequências, ainda recentemente, em 1962, um dos mais lidos jornais portugueses acentuava o valor dos trabalhos de CTIAB e de CTIST.
Efectivamente, em seu número de 19 de Agosto de 1962, o "Diário Popular" dava o merecido relevo às experiências de CT1ST e de CT1AB, nos seguintes termos, que transcrevo, dado o seu interesse documental.
"As comunicações de Rádio em frequências muito altas, quer em fonia, quer em grafia, mercê de uma intensa actividade experimental de cientistas e investigadores, estão a alcançar possibilidades verdadeiramente desconhecidas, obrigando até a rectificações capitais na teoria consagrada da propagação — ondas electromagnéticas naquelas elevadas frequências".
"Em todo o mundo têm participado nestes trabalhos, além de profissionais dispondo de todos os meios técnicos e auxílios financeiros, os experimentadores amadores, mais conhecidos pela designação de Radioamadores.
"Na América, na Inglaterra, em França, e em Itália, os resultados obtidos têm sido muito interessantes".
"Era, até à pouco, ponto assente que as comunicações em frequências muito elevadas não alcançavam, transmitidas de qualquer local da Terra para outro local, igualmente na Terra, grandes distâncias — atendendo a que acusavam a particularidade de propagação em linha recta, e não reflectida nas camadas ionizadas que rodeiam o nosso planeta".
"Muitos resultados, obtidos por experimentadores estrangeiros, não confirmaram, porém, em absoluto, esta teoria
"No nosso País, o problema, nos seus aspectos experimentais, tem sido seguido, não só pelos técnicos, de alta competência, dos Serviços Radioeléctricos, como por alguns Amadores de Rádio, entre os quais haverá que citar os Srs. José Joaquim de Sousa Dias Melo, e Abílio Rodrigues Júnior, estes há longos anos efectuando experiências e ensaios
"Em consequência dessas experiências, aquele primeiro radioamador, — Sr. José Joaquim de Sousa Dias Melo — residente em Guerreiros, Loures, conseguiu na passada sexta-feira, comunicar, na frequência de 144 Megaciclos, com um amador espanhol, das 2,30 até às 5,30 T.M.G., ou seja, hora do meridiano de Greenwich".
"O nosso compatriota, que é o decano dos Radioamadores Portugueses, e usa o indicativo de CTIAB, esteve, assim, em comunicação perfeita e estável, durante aquele espaço de tempo, com a Estação EA4FZ, do amador espanhol Cecílio Lopez’’.
"Convém ainda salientar que tanto o emissor como o conversor e a antena utilizados — foram construídos e afinados por CT1AB".
"O facto, que registamos, constitui sem dúvida um magnífico êxito, que honra a técnica electrónica nacional, e o nosso Radioamadorismo".
Não pretendo historiar neste momento todas as actividades de CT1AB — os apontamentos e notícias que deixo expostos são, no entanto, elucidativos acerca do mérito, da competência técnica, e do permanente esforço construtivo de mais este pioneiro do Radioamadorismo Nacional.

OS ANTIGOS CONCEITOS OFICIAIS SOBRE PROPAGA ÇÃO DAS RÁDIO-ONDAS:

A notícia, que transcrevi, do "Diário Popular", acerca do mérito dos Radioamadores na descoberta das surpreendentes possibilidades do aproveitamento das "ondas curtas" para as telecomunicações a longa distância — torna oportuno adiantarmos, desde já, alguma coisa mais acerca dos antigos conceitos oficiais, sobre a propagação das rádio-ondas.
Tais conceitos, consagrados designadamente pela legislação estrangeira até às importantes experiências dos Radioamadores a que farei referência, exerceram, como bem se compreende, a sua influência sobre a própria legislação portuguesa relativa as Estações Emissoras Experimentais — e interessam por isso directamente à História do Radioamadorismo Português.
Desde os princípios do corrente século, até inclusivamente à aplicação da T.S.F. à Radiodifusão, em 1920, o estado do conhecimento científico — ou, melhor, das convicções dominantes, porque nem todos assim pensavam — acerca da propagação das rádio-ondas, havia feito concluir oficialmente, como verdade indiscutíve1, que só as frequências’, das chamadas ‘‘ondas longas’’ e médias’’ teriam aplicação prática, para a transmissão e recepção a grandes distâncias.
Empregando rádio-ondas abaixo dos 200 metros, verificava-se o enfraquecimento progressivo da recepção a distâncias relativamente reduzidas, e tal fizera concluir (afinal erradamente como vai ver-se) que, enquanto as ondas longas e médias se propagavam ao longo da superfície curva da Terra, atingindo razoável alcance de recepção, as ondas ‘‘curtas’’, pelo contrário, seguiam em linha recta, perdendo-se na imensidade do espaço extraterrestre.
Os livros e manuais da época "ensinavam" dogmaticamente esta ‘‘verdade’’ e, assim escrevendo o Eng. E. Monier o seu conhecido trabalho sobre "A Telegrafia Sem Fios, a Telemecânica, e a Telefonia Sem Fios’’, publicado em Paris em língua francesa com um Prefácio do Dr. Branly em 19l3, — acentuava cuidadosamente:
‘‘...as ondas eléctricas são tanto mais difíceis de reflectir quanto mais longas se tornam; mas, aumentando de comprimento, adquirem, por isso mesmo, propriedades que lhes são muito mais vantajosas, e sem as quais a Telegrafia Sem Fios seria impossível. Tais propriedades são devidas a um fenómeno chamado difracção".
‘‘As ondas eléctricas, graças a sua difracção, não são detidas pelos obstáculos que se lhes deparam; contornam-nos, e continuam o seu caminho".
"A difracção é tanto mais acentuada quanto maiores são os comprimentos de onda".
por esta razão que as ondas longas, projectadas por uma potente faísca, podem contornar um corpo opaco e iluminar, se assim se pode dizer, todas as partes que lhe ficam do lado oposto; isto ao passo que os raios luminosos, com as suas ondas extremamente curtas, se propagam
Sensivelmente em linha recta, e deixam quase na sombra geométrica todas as partes do corpo que não atingem directamente, sendo a sua difracção insignificante".
"A grande difracção das ondas eléctricas é pois de uma grande importância, verdadeiramente capital, para a Telegrafia Sem Fios a longa distância"...
E logo a seguir conclui, conforme a doutrina do tempo.
«... Para que as ondas eléctricas se propaguem a uma grande distância, é necessário, não só que sejam potentes mas ainda de grande comprimento de onda, o que, aliás, está relacionado com a sua potência. É desta forma que transpõem facilmente colinas e montanhas — e que seriam capazes de dar a volta ao globo terrestre, seguindo a sua convexidade.
Finalmente, as ondas curtas eram expressamente condenadas como "inúteis", nos seguintes termos:
"Outro tanto se não diga das ondas curtas hertzianas, de fraca difracção".
"Estas não podem contornar tão facilmente os obstáculos, dos quais o mais importante sobre a Terra é devido à própria rotundidade do Globo. Eis, pois, com a sua fraca energia, o que limita o alcance destas ondas eléctricas, — e o que limita ainda mais o alcance dos raios luminosos os quais, pela sua difracção quase nula, seguem na sua propagação a 1inha recta".
..... Em resumo: quando se trata de uma transmissão para grande distância e alcance — é necessário fazer uso de ondas muito longas, do género das que Feddersen conseguiu obter, por meio da descarga de garrafas de Leyde, ou condensadores de Leyde".
Era este, portanto, o conceito dominante sobre a propagação da T.S. F. — até mesmo quando surgiu a Radiodifusão em 1920.

AS GRANDES «FÁBRICAS" DE T.S.F. DE 1920:

Seguindo, por virtude da "difracção", ao longo da superfície curva da Terra, as ondas ‘‘longas’’ e "médias" sofriam um tal enfraquecimento de potência, como resultado da absorção do solo, que as antenas de recepção e de transmissão, e as próprias Estações Emissoras — tinham de recorrer a vastas e potentíssimas instalações, para assegurarem a recepção em boas condições, aos respectivos "auditores".
A onda longa era, além disto, sobremodo incómoda, durante o verão, pelas interferências provenientes das descargas electrostáticas atmosféricas, e de ruídos parasitários industriais e tudo isto fez demorar, inicialmente, um mais amplo desenvolvimento das comunicações oficiais e da radiodifusão mundial.
Conforme nos refere o Dr. Chapman, no seu já citado trabalho, as ondas Radioeléctricas haviam sido classificadas pelo "Comité Internacional de Radiotécnica» em "longas’’, com frequências compreendidas entre 6 e 100 kHertz, ou seja, dos 50.000 aos 3000 metros; "médias" com frequências entre os 100 e 1500 kHz e os 6000 kHz, ou seja, entre os 200 e os 50 metros; ‘curtas", entre os 6 e os 30 MHz, que o mesmo é que dizer dos 50 aos 10 metros; ‘‘ultra-ondas’’, entre os 30 e os 300 MHz, ou seja, dos 10 a 1 metro; e "micro-ondas", dos 300 megahertz para cima, isto é, de 1 metro de comprimento de onda para menos — já então tendo sido produzidas radio-ondas de 17 cm, quando o Dr. Chapman escreveu o seu mencionado trabalho, "A Radiotelefonia em Dia’’, publicado em l945.
Ora, sendo considerado em 1920, como praticamente inúteis os comprimentos de onda inferiores aos 200 metros — e monumentais as Estações Emissoras para longas distâncias, verdadeiras "fábricas" de energia eléctrica, com assombrosos geradores, e vastos campos de antenas de emissão por vezes de 100 hectares, — aos Radioamadores de todo o Mundo ficaria a dever-se, mais uma vez, um dos mais assombrosos descobrimentos do presente século: o da maravilhosa propagação e alcance das ondas "curtas" não obstante sua insignificante potência...
Vejamos, pois, como foi que os diversos Governos, a começar pelos próprios e liberais Estados Unidos da América do Norte, relegaram — felizmente — os Radioamadores de todo o Mundo para aquele domínio inexplorado, considerado "inútil", dos comprimentos de onda inferiores aos 200 metros...
Como tais soluções tiveram, evidentemente, carácter internacional — elas vieram a reflectir-se, muito compreensivelmente, na própria regulamentação oficial do Radioamadorismo Português.

AOS RADIOAMADORES NORTE-AMERICANOS – É ATRIBUÍDA

A «TERRA DE NINGUÉM» DOS 200 METROS

Existindo Radioamadores Americanos, como aliás Europeus, já antes da deflagração da Grande Guerra de 1914 a 1918, e concluindo o Governo Americano que os comprimentos de onda inferiores a 200 metros eram insusceptíveis de comunicações a grandes distâncias — foram exactamente os atribuídos aos Radioamadores Norte Americanos, pelo "Wireless Act" de 1912.
Esta falta de visão, inicial, do Governo Norte-Americano, relativamente ao valor nacional e internacional do Radioamadorismo — tem aí ias sido largamente compensada, na actualidade, pelo apreço e protecção que os Estados Unidos da América do Norte muito justamente atribuem ao Radioamadorismo, fomentando redes e serviços de emergência, e facilitando estações móveis e portáteis de Radioamadores, imprescindíveis em casos de urgência e de calamidades públicas.
Naquela época estava-se, porém, no limiar desta perturbante descoberta, do mais elevado interesse público, — as Estações de Amadores multiplicavam-se e interferiam entre si, e como os próprios serviços oficiais, e o Governo Norte-Americano considerou mais útil relegar os Radioamadores para o domínio "estéril" dos comprimentos de onda inferiores; a 200 metros, do que permitir-lhes um legítimo desenvolvimento, ainda que condicionado.
Assim, conforme nos conta o Radioamador Sr. Donald L. Stoner, titular da Estação Americana W6TNS, no seu ínteressantíssimo trabalho publicado no número de Outubro de 1960 da revista norte-americana "Popular Electronics", "as interferências resultantes da multiplicação das estações" deram origem à necessidade de uma regulamentação oficial da T.S.F., que teve lugar pelo "Wireless Act" de 1912, ou seja a Lei Americana da T.S.F., de 1912.
O Governo ficava, segundo esse diploma legislativo, com o controlo de todas as estações transmissoras, todos os operadores de T.S.F. careciam de autorização oficial por meio de uma licença, e — conforme expressamente o consigna o referido autor Sr. Stoner — "os Amadores foram relegados para a terra-de-ninguém dos comprimentos de onda inferiores a 200 metros"...
Foi tão errada a visão inicial sobre o radioamadorismo, por parte da entidade que determinou o "Wireless Act», de 1912, que o "The Radio Amateur’s Handbook" ainda na sua edição de 1936 acentuava a frase governativa em toda a sua incompreensão: — "Os Radioamadores? Oh, sim bem: preguem com eles nos 200 metros; não prestam para nada; nunca mais passarão das traseiras dos quintais!»...
Ainda não existia nos Estados Unidos da América do Norte a "Radio Amateur’s Relay League", que só veio a organizar-se em princípios de 1914, — e, quer o governo americano, quer a própria massa associativa dos Radioamadores de todo o mundo, têm feito modificar aquela opinião inicial sobre o radioamadorismo.
Segundo o têm notado, e bem, sucessivas edições daquele mesmo ‘Radio Amateur’s Handbook", que desde 1926 se publica como verdadeiro ‘‘Manual’’ da própria ‘‘Radio Amateur’s Relay Leaque — 4000 amadores norte-americanos serviram a Pátria como peritos em T.S.F. na Grande Guerra de 1917-1918 – e enquanto 25.000 serviam nas Forças Armadas dos Estados Unidos, na Segunda Grande Guerra Mundial, outros milhares, eram destinados a tarefas relacionadas com a investigação electrónica vital para o País, ou organizavam e integravam o Serviço Radioeléctrico-de Emergência de Guerra, como bem se acentua na edição de 1962.
Assim, aquela frase que ainda em 1936 e 1945 era integralmente reproduzida pelo "Handbook" — mereceu, e bem, o "adoçamento’’ que em sucessivas edições mais modernamente se lhes atribui...
Hoje, a frase é já bem outra — e perdeu portanto o seu sentido inicial, aparecendo-nos, por exemplo, na tradução, em Castelhano de 1962, da seguinte forma:
"0 ponto de vista oficial que mereciam os radioamadores era, em alguns casos, como este: — Radioamadores?... Oh! Sim Encontrá-los-á pregados em 200 metros e mais abaixo, e nunca chegam para além das traseiras das casas com seus comunicados...»
Simplesmente, em 1912, a quando do ‘Wireless Act" americano — ainda se não tinham verificado quaisquer comunicações intercontinentais, de radioamadores entre si, — e assim, era o radioamadorismo francês o que maior influência exercia nos estudiosos portugueses da T.S.F.
Observaremos, a seu tempo, ainda que com a inerente brevidade, o que se passava em França, com o radioamadorismo francês, entre 1912 e a deflagração da Grande Guerra de 1914. Antes, porém, vejamos como surgiu a Regulamentação Portuguesa, que é de 1916.

O ENG.º LUÍS DE SEQUEIRA OLIVA JÚNIOR
PROMOVE O RADIOAMADORISMO, DE 1909 A 1916

É costume, como oportunamente mostrei, localizar o começo da História do Radioamadorismo Português em 1916, data da primeira acção oficialmente permitida e documentada de um radioamador português, ou seja, do estabelecimento das comunicações entre a esquadra britânica no Atlântico Sul e o Almirante Inglês, pelo Radioamador Alberto Carlos de Oliveira, então em Cabo Verde, — em 1916.
Para outros, o Radioamadorismo português teria tido o seu início apenas em 1925 — e, assim, no "Boletim da R.E.P ‘‘, n.º 67 de Janeiro-Dezembro, de 1950, os radioamadores portugueses propunham-se editar um número especial comemorativo dos 25 anos de Radioamadorismo, que então se entendia completarem-se em 1950.
Em 1916 surgiu, porém, a primeira Regulamentação do Radioamadorismo Português, pelo que melhor me parece a doutrina do citado "Anuário Radiofónico" de 1936. São "Amadores" quer os "Radioescutas" quer os ‘"Amadores-Emissores", quer inclusivamente os estudiosos que sem qualquer interesse pecuniário, se dediquem à Ciência da TSF, e, assim, teremos de situar o Radioamadorismo português (muito honrosamente para o nosso País) — não em 1925, mas em 1916, existindo, porém, radioamadores nacionais já em 1909... Foram esses, precisamente, os percursores do Radioamadorismo autorizado.
A primeira regulamentação oficial expressamente dedicada ao Radioamadorismo português surgiu — com a maior compreensão para os radioamadores — durante a própria Grande Guerra, em 1916, e então se fixaram (apenas quanto à recepção, pois que a emissão era proibida, e a guerra tornava inoportuna a sua permissão naquelas circunstâncias) as normas a que teria de obedecer a posse de receptores de Telegrafia Sem Fios.
Porém, já em 1909, quando em Portugal começava a manifestar-se — por influência sobretudo francesa — um maior entusiasmo pela Telegrafia Sem Fios, o Eng.º Luís Sequeira de Oliva Júnior fundava, em Lisboa, uma Revista, que depois se tornou o primeiro órgão defensor dos radioamadores em Portugal, denominada — como já o expliquei — "Electricidade e Mecânica".
Esta revista era dirigida pelo Eng.º Oliva Júnior, seu proprietário, com redacção no Campo Grande, n.º 192, em Lisboa, e com o telefone — manual — "Campo Grande 86"!...
Editada por Sebastião R. Tenório Oliveira, era composta e impressa na Rua da Oliveira ao Carmo, n.º 10, e teve, mais tarde, em 1916, a sua redacção e administração no Largo do Corpo Santo, n.º 13-2º, em Lisboa.
Em 1915, tendo as autoridades apreendido os Postos Receptores de TSF. dos radioamadores portugueses, por se entender proibida a sua detenção, — foi historicamente decisivo o papel desta revista, e de seu Director, na defesa dos legítimos interesses do Radioamadorismo nacional.
São factos hoje geralmente desconhecidos, e veremos, por isso como a notabilíssima acção desenvolvida pelo Eng.º Oliva Júnior, junto do ao tempo Administrador e Director-geral dos Correios e Telégrafos, Sr. Eng.º António Maria da Silva, se ficou devendo a primeira autorização e regulamentação do Radioamadorismo nacional, em 1916.
Mas olhemos, entretanto, ainda que de relance, ao Radioamadorismo mundial, e à regulamentação da T.S.F. nos diversos países civilizados, para melhor se compreender como, em Portugal, foi diversamente bem acolhida a T.S.F. dos amadores, pela acção brilhante e notável do referido Sr. Eng.º Luís de Sequeira Oliva Júnior...

A REGULAMENTAÇÃO DA T.S.F. NOS DIVERSOS PAÍSES,
NO COMEÇO DESTE SÉCULO

A regulamentação oficial da T.S.F. nos principais países civilizados, nem sempre previa, inicialmente, a existência do Radioamadorismo particular.
No seu curiosíssimo trabalho, publicado em Paris e Liége em 1908, intitulado ‘‘A Telegrafia Sem Fios’, seu autor 1. Van Dani, funcionário dos Telégrafos Holandeses, estuda a regulamentação internacional, comparada, da T. S.F. do seu tempo:
Na ALEMANHA, vigoravam Instruções da Administração dos Correios do Império, de 1 de Abril de 1905, que não previam ao que parece a troca de mensagens por simples particulares, e regulamentavam o uso da T.S.F. pelos navios e pelas estações costeiras.
Na AUSTRIA, o monopólio da T.S.F. estava igualmente assegurado ao Estado por regulamentação legal
Na BÉLGICA o Governo detinha do mesmo modo as comunicações telegráficas inalâmbricas, por decreto real de19 de Setembro de 1902, e disposições complementares de1904.
Mais interessante era a legislação DINAMARQUESA: pelo art.º 1.º da lei relativa à T.S.F., o Estado reservava-se o direito exclusivo da instalação e exploração da Telegrafia Sem Fios, em terra e no mar. Porém, o § 4.º da mesma lei dispunha que os particulares podiam realizar ensaios científicos e técnicos de T.S.F., mediante autorização do Ministro das Obras Públicas.
Em ESPANHA, a legislação respectiva assegurava ao Estado o monopólio da exploração da telegrafia por condutores, e previa-se a concessão da exploração das comunicações inalâmbricas a empresas comerciais.
Nos ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, o seu presidente nomeou, em 1904, uma comissão para se pronunciar sobre se a T. S.F. devia ficar sob o controlo do governo, e esta apresentou neste mesmo ano um Relatório, decidindo unanimemente que sim — mas só em 1912 veio a ser estabelecida — como vimos — a necessidade de autorização para o Radioamadorismo, que até então foi inteiramente livre.
Em FRANÇA, numa nota dirigida, em 1903, ao Presidente da República, pelo Ministro do Comércio, da Indústria, dos Correios e dos Telégrafos — salientava-se a necessidade de que a Administração dos Correios e Telégrafos fosse designada como entidade competente para a exploração da T.S.F.
Deu isto origem ao decreto de 7 de Fevereiro de 1903, que designava a Administração dos Correios e Telégrafos como única entidade competente para o estabelecimento de postos de T.S.F., que se previa fossem explorados por particulares, mas só mediante licença do Ministro do Comércio, Industria, Correios e Telégrafos.
Tal decreto motivou por sua vez uma nota do Ministro da Marinha ao Presidente da República, de que resultou novo decreto, de 27 de Fevereiro de 1904, estabelecendo um maior condicionamento, e a direcção da exploração da T. S.F., em caso de guerra, pela Marinha.
Uma nova nota, do Ministro das Obras Públicas, Correios e Telégrafos, ao Presidente da República, deu origem ao decreto de 5 de Março de 1907 — que previa do mesmo modo o estabelecimento de estações particulares, mediante condicionalismo oficial e necessidade de licença

A REGULAMENTAÇÃO DA T.S.F., NO COMEÇO DESTE SÉCULO

 (CONTINUAÇÃO).

Na GRÃ-BRETANHA, a T.S.F. foi inicialmente regulamentada pelo "Wireless Telegraphy Act 1904", que proibia inclusivamente a detenção de aparelhos de T.S.F. sem uma licença especial do "Postmaster General", Administrador-Geral dos Correios e Telégrafos.
Prevendo expressamente o Radioamadorismo, o art.º 2.º deste diploma estabelecia que qualquer pessoa que pretendesse obter autorização para o estabelecimento de aparelhos de T.S.F. com o único fim de fazer experiências de telegrafia sem fios tinha que fornecer ao "Postmaster General" prova suficiente de suas afirmações, e sujeitar-se às condições especiais que este julgasse conveniente.
Fixou-se que a lei era posta em vigor até 30 de Setembro de 1906, mas no decurso do referido ano estabeleceu-se que seria aplicada sem modificações até Dezembro de 1909.
Em 1 de Fevereiro de 1906 o Administrador-Geral dos Correios e Telégrafos publicou por sua vez, instruções relativas a correspondência por T.S.F. com a Marinha -e muitos outros diplomas, que pormenorizadamente se cita na erudita obra por que me venho guiando, regularam expressamente o uso da T.S.F. nos múltiplos e dilatados territórios da Comunidade Britânica.
Especialmente de assinalar que, no CANADÁ, pela lei relativa à T.S.F., de 1905, era proibida aos particulares a detenção de aparelhos de T.S.F. favorecendo-se, no entanto, mediante licença, a instalação de postos meramente experimentais, e com fins científicos, de radioamadores.
Na HUNGRIA, a lei estabelecia que a T.S.F. era apenas um monopólio do Estado.
E na ITALIA, sempre tão célebre pelo seu Radioamadorismo, Marconi recebera do governo italiano o monopólio da exploração da T.S.F.
Assim, uma lei de 1906, autorizava apenas o estabelecimento de comunicações — com navios privados de "aparelhos Marconi"...
No seu tratado comercial o governo italiano obrigara-se a não se servir de outra aparelhagem que não fosse do ‘‘sistema Marconi", nem corresponder-se com estações que não estivessem "equipadas com o mesmo sistema"...
E mais se obrigara o governo italiano a ‘‘manter secretos" todos os detalhes das estações de T.S.F.
A ALEMANHA viria a caber o mérito da iniciativa para o desenvolvimento da regulamentação internacional da T.S. F. — promovendo a Conferência Preliminar de Berlim, que teve lugar de 3 a 14 de Agosto de 1903, e a Conferência Internacional de Berlim, que teve lugar em 3 de Outubro de 1906, e em que Portugal se fez representar.
Dos trabalhos de tal conferência viria a resultar reconhecimento do interesse mundial da troca de ensinamentos científicos, acerca das inesgotáveis possibilidades da T.S.F.
Entretanto, — e continuando esta breve observação da legislação comparada, do começo do século — também na HOLANDA se atribuía o controlo da T.S.F. ao Estado, por lei de 1 de Março de 1904, decreto real de 22 de Dezembro de 1905, e Tratado de Concessão Comercial, de Janeiro de 1907.
Nas Colónias Holandesas vigorava legislação especial que me dispenso de reproduzir — e, finalmente, na RUSSIA, a exploração da T.S.F. constituía monopólio do Estado, não havendo sido estabelecidas quaisquer concessões a empresas comerciais privadas.
De tudo isto resulta, com clareza, que — se, por um lado, a preocupação da maior parte dos Estados era assegurarem ao governo o monopólio da exploração da troca de correspondência pela T.S.F. — países havia, como a Grã-Bretanha, Dinamarca e Estados Unidos da América do Norte que já então previam e facilitavam, nos princípios deste século, o desenvolvimento do Radioamadorismo puramente experimental

A REGULAMENTAÇÃO DA T. S. F. EM PORTUGAL, ANTERIORMENTE A 1916.

O já referido Eng.º Luís de Sequeira Oliva Júnior cuja acção cumpre não esquecer, como promotor do Radioamadorismo nacional — começou publicando, na revista "Electricidade e Mecânica", anteriormente a 1915, um "Curso de Telegrafia Sem Fios", que mais tarde editou em separata, em 1916, sobre o epígrafe "Curso de T.S.F. — ou T.S.F em 24 Lições".
Segundo aí se transcreve, o art.º 29 da Lei da Organização dos Correios, Telégrafos, Telefones, e Fiscalização das Indústrias Eléctricas, estabelecia:
"Art.º 29 — O Governo reserva-se o direito de fazer executar quaisquer experiências com os sistemas e aparelhos de telegrafia eléctrica ou de outra espécie actualmente inventados ou que de futuro o venham a ser e nomeadamente com os classificados como telegrafia sem fios, condutores ou semelhantes".
E o Art.º 49 estatuía por sua vez:
"Art.º 49 — É proibido, sem prévia autorização do Governo, estabelecer ou abrir à exploração linhas ou estações telegráficas, telefónicas ou outras para permuta rápida de correspondências, estações semafóricas, sinais marítimos, estações, postos ou receptáculos postais".
Interpretando a lei portuguesa, o referido autor holandês 1. Van Dam era de opinião que, em Portugal, no que dizia respeito à T.S.F., no Continente, Açores e Madeira — todas as experiências e serviços competiam exclusivamente ao Estado, encontrando-se por legislar o respeitante aos domínios ultramarinos portugueses.
Só um amador entusiasta e hábil poderia, portanto, não só procurar sustentar, como chegar a convencer as autoridades portuguesas, da licitude da detenção e utilização, pelos radioamadores dos receptores de T.S.F. antes de 1916...
Esse entusiasta, e promotor da T.S.F. de Amadores em Portugal — foram precisamente o referido Eng.º Luís de Sequeira Oliva Júnior, cuja argumentação vamos ter ocasião de apreciar.

A DEFESA DA LICITUDE DA UTILIZAÇÃO DOS RECEPTORES DA T.S.F.,
ANTES DE 1916

Sustentando que só podia considerar-se "telegrafia sem fios’’ a "transmissão’’, pois seria a ‘‘transmissão’’ que "telegrafava’’ — o Eng.º Luís de Sequeira Oliva Júnior defendia não carecerem de qualquer licença os postos simplesmente "receptor de T.S.F.’’... e "afastava", desta forma, a proibição do Art.º 29 da já mencionada lei...
Ficava o art.º 4, proibitivo das estações para a ‘‘permuta rápida de correspondências’’ — e quanto a estas sustentava, por sua vez, que os "receptores’ jamais serviriam para qualquer "permuta", pois apenas "recebiam"...
E, finalmente, estabelecendo o art.º 20, da Conferência Internacional da Hora que as administrações telegráficas deveriam estudar os meios "que a técnica sugerir, a fim de transmitir a hora aos particulares’’ — sustentava o Eng.º Oliva Júnior que isto implicava, precisamente, a liberdade da posse de receptores de T.S.F., sem qualquer licença por parte dos particulares, para o conhecimento dos boletins meteorológicos, e da hora exacta...
Já nesse tempo, por 1915, existia um certo número de amadores de T.S.F. em Portugal — com os respectivos postos receptores de T.S.F. e sem qualquer licença — e veremos, por isso, no capítulo seguinte, como foi que as autoridades da polícia de Lisboa (segundo notícias então publicadas com grande relevo pelo jornal ‘‘O Século’’) procederam a diversas buscas e apreensões, considerando ‘‘clandestinos" os receptores de T.S.F. não licenciados...
Daí nasceria uma autêntica "revolução" dos amadores da T.S.F. — e a primeira regulamentação do Radioamadorismo em Portugal, que veio a ter lugar em 1916...

AS APREENSÕES DOS RECEPTORES DE T. S. F., EM 1915;
E SEUS ANTECEDENTES

Portugal não esteve, nem está — como demonstrarei -aquém do progresso do estudo e do desenvolvimento das Ciências e das Artes Aplicadas da Electricidade.
O ensino da Electrotécnica, e o desenvolvido estudo da Telegrafia Eléctrica — constituíram os antecedentes lógicos da mais profunda curiosidade pela Telegrafia Sem Fios.
Não pretendo aprofundar, neste momento, o que tem sido propriamente a História das investigação sobre a electricidade em Portugal mas cumpre esclarecer que são bem antigos, inclusivamente, os livros portugueses que ao assunto desenvolvidamente se referem.
Assim, é de 1883, por exemplo, um descriminado trabalho de então Major de Infantaria Augusto C. Bom de Sousa intitulado "Memória sobre a Te1egrafia Eléctrica Militar na Exposição de Electricidade em Paris, 1881’’, seguida de um "Tratado de Telegrafia de Sinais para o uso do Exército" — tudo publicado pela própria Imprensa Nacional de Lisboa.
E já em 1892 a mesma Imprensa Nacional publicava, também uma interessantíssima memória, apresentada pelo Engenheiro e Professor Catedrático Paulo Benjamim Cabral, Inspector-Geral dos Telégrafos, ao "Congresso Pedagógico Hispano-Português-Americano."
Tal memória intitulava-se, precisamente, "O Ensino da Electrotecnia em Portugal’’ e foi publicada — conforme referi — em 1892...
Em Portugal, tal como noutros países, a Telegrafia Óptica precedeu, de muitos anos, a Telegrafia Eléctrica.
A primeira organização regular de que parece haver notícia oficial — quanto à Telegrafia Óptica — data de 1809, durante a Guerra Peninsular.
O Telégrafo sofreu depois sucessivas reorganizações até que, por Contrato de 26 de Abril de 1855, com a Casa Breguet, foi estabelecida a instalação de estações telegráficas no nosso país, sendo os aparelhos a empregarem Breguet e Bain.
Mais tarde — em 1856, na Áustria, Prússia e Suíça, e em 1858, em França — foram, na Europa, substituídos aparelhos europeus adoptados, pelo Telégrafo de Morse, e Portugal acompanhou igualmente o progresso europeu presumivelmente ao mesmo tempo que a nação francesa, sendo certo, porém, que, em 1860, já diversas estações portuguesas se encontravam equipadas com os aparelhos do sistema Morse.
Do mesmo modo e sempre a par do constante progresso europeu e americano, já em 1894 se publicava entre nós um verdadeiro tratado de Telegrafia Eléctrica, em três volumes editados no Porto — e que o seu ilustrado autor, Jorge da Cunha, Primeiro-Oficial Chefe dos Serviços Telegráficos da Cidade do Porto, e Instrutor da Escola Prática de Telegrafia, anexa aos mesmos Serviços, qualificou, com a mais exemplar modéstia, como simples, o "Livro Elementar de Telegrafia Eléctrica"...
Com tais antecedentes científicos no ensino e na prática da Telegrafia Eléctrica no nosso país — não admira como logo foram numerosos, também, os cultores e entusiastas da Telegrafia Sem Fios em Portugal...
Em 1907 já o notável escritor Amadeu de Vasconcellos -autor de numerosas obras de divulgação científica dos começos deste século dedicava o Segundo Volume do seu trabalho "Actualidades Científicas" às maravilhas de ‘‘A Telegrafia Sem Fios’’.
E a partir de 1909 surgiu — conforme já o referi oportunamente — a interessantíssima publicação intitulada ‘‘Electricidade e Mecânica’’, da autoria do Eng.º Luís de Sequeira Oliva Júnior, e um dos mais poderosos incentivos da T.S.F. em Portugal.
Assim, bem se compreende como já eram relativamente numerosos, em 1915, não só os entusiastas portugueses da T.S.F. — corno também os possuidores dos próprios aparelhos detectores dos misteriosos sinais da Telegrafia Sem Fios
E as diligências das autoridades de Lisboa procedendo nesse referido ano à apreensão dos aparelhos receptores de T.S.F. que conseguiram localizar — não foram, evidentemente, determinadas nem por uma incompreensão para com os amadores Radioescutas da T.S.F., nem pelo menosprezo das indiscutíveis vantagens de poder dispor o País de um núcleo de práticos e de conhecedores de Telecomuricacões
A verdadeira razão da momentânea "selagem" dos Postos de T.S.F., em 1915, residiu — conforme veremos — na mais imperiosa necessidade, de interesse internacional, e pode dizer-se que mundial, da manutenção do estrito e rigoroso sigilo com que se procedeu à preparação da Marinha de Guerra Portuguesa, para fazer face às contingências internacionais da intervenção de Portugal, em defesa da sua multissecular Aliada, a Grã-Bretanha, na Primeira Grande Guerra de 1914 a 1918.
Foi a íntegra e correcta lealdade com que Portugal acedeu, em cumprimento da Aliança Luso-Inglesa, a prestar aos aliados britânicos o solicitado auxílio, em 1915 e 1916, — que determinou a necessidade da supressão meramente provisória dos Postos de T.S.F. dos Radioamadores em fins de Julho de 1915...

À MARINHA DE GUERRA PORTUGUESA TORNA-SE NECESSÁRIA, EM 1915,
A SUSPENSÃO DA T.S.F. DOS AMADORES.

Desde 14 de Maio de 1915 que uma das mais importantes e enérgicas figuras da Marinha de Guerra Portuguesa era constituída pelo Capitão-de-Fragata Comandante Jaime Daniel Leote do Rêgo, um dos mais entusiásticos defensores do auxílio de Portugal a Grã-Bretanha em 1915, e um dos organizadores dos Serviços de Contra-Espionagem Portuguesa.
Em Junho de 1915, e por solicitação do Governo de Sua Majestade Britânica – segundo tudo vem pormenorizadamente relatado na monumental obra do General Ferreira Martins, "Portugal na Grande Guerra", — ‘"os nossos navios começaram a ser empregados em serviço de vigilância dos submarinos alemães na costa, para impedirem que eles comunicassem com quaisquer embarcações", tornando-se, por tanto, absolutamente essencial o mais absoluto sigilo sobre as comunicações dos navios da Armada Portuguesa pela T.S.F.
No mês seguinte por Portaria de 5 de Julho de 1915, foi, por sua vez, criada a "Divisão Naval de Defesa e Instrução", inicialmente composta pelo Cruzador-Couraçado ‘‘Vasco da Gama" e por outras unidades, entre as quais o submersível "Espadarte".
A "Divisão" era comandada pelo referido Capitão Leote do Rêgo — que içava o respectivo distintivo de Comandante a bordo do Couraçado "Vasco da Gama" e que assim assumia a responsabilidade da chefia das manobras da Marinha Portuguesa.
Em fins de Julho de 1915 realizavam-se Exercícios Navais — preparatórios de uma possível intervenção de Portugal na Grande Guerra — e mais uma vez se constatava a importância da supressão, na medida do possível, de todas e quaisquer fontes de indiscrição, sobre as comunicações realizadas entre a Marinha e o Posto do Arsenal pela T.S.F.
E foi assim que surgiu a acção, pessoalmente dirigida pelo Comandante Leote do Rêgo, no sentido da apreensão de todos os aparelhos de T.S.F. de Lisboa, no dia 29 de Julho de 1915, antes da entrada de Portugal na Grande Guerra.
De facto, em sensacional notícia publicada na edição da noite do jornal "O Século", de 29 de Julho de 1915, era tornada conhecida a "descoberta de uma estação clandestina de T.S.F., numa casa da Calçada do Combro".
E, na edição da manhã do dia seguinte, 30 de Julho, o mesmo importante diário relatava com mais amplos pormenores os acontecimentos do dia anterior, sob o título: "T.S.F. — Descobre-se uma estação rudimentar, numa casa da Calçada do Combro — As autoridades prendem quatro rapazes, apreendem os aparelhos, e arreiam as antenas!"

QUATRO AMADORES DE T. S. F. SÃO PRESOS, NA CALÇADA DO COMBRO

Na calçada do Combro, em Lisboa, quatro Amadores de T.S.F. aperfeiçoavam seus conhecimentos de Telegrafia Sem Fios — e haviam passado a registar, em Livro de Escutas próprio, todas as comunicações captadas, entre os navios de guerra da Marinha Portuguesa...
Assim, em 29 de Julho de 1915, o Comandante Leote do Rêgo, acompanhado pelo Tenente Serrão Machado, da guarnição do Submarino "Espadarte", e de vários Sargentos e Praças da Armada dirigiram-se à Calçada do Combro, frente ao prédio N.º 81, que fica ainda hoje fronteiro, Travessa de André Valente.
Foi postada vigilância e guarda à porta da rua desse N.º 81, enquanto um dos marinheiros da Armada se dirigia ao quartel da 2.ª Companhia da Guarda Republicana, situado próximo do local, dali trazendo mais um Cabo e vários Soldados daquela unidade.
Entretanto, outro Marinheiro requisitava a presença de autoridade civis, comparecendo o Juiz de Paz, Costa, e o seu substituto Tavares de Macedo.
Reunidas todas estas entidades, subiram imediatamente ao 4.º andar daquele prédio n.º 81, sobre cujo telhado se encontrava, bem visível, uma longa antena de T.S.F.
Ali residiam o António Alves, soldado n.º 114 da 2.ª Companhia do 1.º Batalhão da Guarda Nacional Republicana, na situação de aposentado, e bem assim sua esposa e dois filhos do casal — um dos quais o António Júlio Alves, amador apaixonado da T.S.F.
No 4.º andar foi observada uma sala com livros sobre Rádio perfeitamente arrumados, assim como outras publicações científicas — que mostravam tratar-se, segundo o jornal "O Século", de rapazes dedicados ao estudo da Física e da Química.
No sótão, as autoridades depararam com frascos de ingredientes vários, tais como produtos para pilhas e baterias, e ferramentas diversas, tudo igualmente limpo e arrumado — e, sobre uma mesa, o "corpo de delito’’, ou seja " uma estação de telegrafia sem fios, apenas preparada para a recepção", com o respectivo detector de cristal, manipulador de Morse para afinação e os indispensáveis auscultadores...
Com o senfilista António Júlio Alves — primeiro Radioescuta que assim entrou no conhecimento público estavam na ocasião mais três rapazes amadores de T.S.F. cujo "delito’’ confessaram, sendo-lhes dada ordem de prisão, após interrogatório, e seguindo num automóvel (meio de transporte ainda raro em 1915) para o Governo Civil de Lisboa...
Em resumo, e sempre segundo as reportagens ao tempo publicadas pelo jornal "O Século", os ‘‘arguidos" declararam ignorar que em Portugal fosse proibido, a particulares, possuírem "aqueles aparelhos" em suas casas; que o posto receptor de T.S.F. e a chave de Morse lhes serviam apenas para aprenderem Telegrafia, a fim de concorrerem oportunamente a lugares de telegrafistas do Estado; mas que, com tal "galena", captavam as emissões de T.S.F. dos navios da nossa Marinha de Guerra, que depois catalogavam e registavam em livro próprio de escutas...
Tal livro foi, evidentemente, apreendido — e da sua existência deve ter derivado a imediata detenção daqueles quatro e imprudentes entusiastas da T, S.F.

AS PRIMEIRAS INVESTIGAÇÕES DEMONSTRAM A INOCÊNCIA
DOS QUATRO SEMFILISTAS

Das declarações dos quatro Radioamadores veio a apurar-se — quase imediatamente — o seu expontâneo e louvável interesse pela T.S.F.
Já em tempos haviam sido "denunciados", e ali haviam estado, sucessivamente, um Polícia e um Soldado da Arma de Engenharia.
Mais tarde, em consequência de outra "denúncia", havia comparecido um Fiscal da Repartição das Indústrias Eléctricas — Ramiro Mappenis Esteves — que, tal como os anteriores, não considerara necessária qualquer apreensão.
Fora o Radioamador António Júlio Alves quem montara toda a aparelhagem — tomando inteira responsabilidade, e declarando que a possuía desde 28 de Maio de l915 e apta a receber a Torre Eiffel de Paris, se quisesse aumentar-lhe a "potência"...
Na sua boa-fé, os quatro amadores confessaram mesmo "terem conhecimento da existência de mais estações receptoras de T.S.F. em Lisboa "...
Assim, e pelo perigo que representava a possibilidade de qualquer quebra do sigilo nas comunicações da Marinha (ainda que eventualmente em cifra secreta), logo as autoridades tomaram os endereços de mais alguns postos receptores, na Rua de Marcos Portugal, outro na Rua do Ferragial de Baixo, e outro, ainda, na Rua de Bartolomeu Dias.
Deste modo, é hoje pelas antigas reportagens do jornal "O Século’’ que podemos ficar a conhecer os nomes desses quatro primeiros "mártires" do seu entusiasmo pela T.S.F.:
- António Júlio Alves, residente na Calçada do Combro. N.º 81-4.º;
- Júlio Ribeiro dos Santos, ou Júlio Ribeiro Campos, cantor, e antigo pintor;
- João Carlos Rapo ou João Correia, residente na Travessa de S. Sebastião, à Praça das Flores, n.º 22, r/c;
- Carlos Martins Kruger, ou Carlos Augusto, residente na Rua da Esperança, n.º 160-2.º andar — todos em Lisboa.
Segundo o jornal "O Século", e ou pelo nervosismo dos detidos, ou por eventual lapso de identificação, o certo é que os nomes com que se identificaram os três últimos amadores, o Governo Civil de Lisboa, não condizem com as primeiras notícias sobre as suas identidades, e daí a dualidade com que acima os deixo devidamente apontados, nestes primeiros ‘"Elementos" para a História do Radioamadorismo em Portugal
Portugal sempre tem sido um País em que as autoridades actuam por via de regra com o maior escrúpulo no que se refere aos direitos dos amadores das Radiocomunicações, e assim se compreende como estas primeiras detenções, de quatro amadores "galenistas", provocaram, inclusivamente, uma imediata conferência, urgente e até mesmo realizada durante a noite de 29 de Julho de 1915, entre o Magistrado Juiz de Investigação Criminal, encarregado do assunto, e o próprio Ministro do Interior.
De facto, interrogados novamente os detidos, durante a noite de 29, pelo Dr. Juiz de Investigação Criminal, na presença do Tenente Serrão Machado, do submarino "Espadarte", e lavrando os respectivos "Autos de Declarações" os Agentes Joaquim de Figueiredo e Alfredo Maria — deslocou-se o Magistrado Instrutor a conferenciar com o Senhor Ministro do Interior, pelas 23 horas da noite
Entretanto, comparecera na Polícia a mãe de um dos detidos — uma senhora de nacionalidade belga — e logo em 31 de Julho o jornal "O Século" noticiava, na sua edição da manhã, haverem sido restituídos à liberdade, no dia anterior, esses quatro pioneiros do Radioamadorismo Português, contra os quais não mais teve lugar qualquer procedimento criminal...

É APREENDIDO OUTRO POSTO DE AMADOR — "TÃO PERFEITO
COMO O DO ARSENAL DA MARINHA"

Desencadeada, — pelo melindre da situação internacional da Primeira Grande Guerra, e pela necessidade de sigilo quanto às comunicações da Marinha, e preparativos de auxílio à nossa aliada, a Grã-Bretanha, — esta primeira diligência de Leote do Rêgo contra os Amadores de T.S.F. de Lisboa, logo as Autoridades Policiais, e da Marinha de Guerra, se dirigiram para os restantes locais em que havia notícia da existência de aparelhos de T.S.F. pelos particulares.
Desconhecia-se qual fosse a verdadeira razão pela qual a Marinha de Guerra solicitara a selagem da T.S.F. particular, e por isso noticiava ‘‘O Século’’ parecer terem sido dadas ordens para se apreenderem todos os postos de T.S.F. existentes e se arriarem todas as antenas que se descobrissem, "cumprindo-se’’ — dizia o mesmo jornal — "o Decreto que entre as nações beligerantes foi publicado após a deflagração da Guerra, proibindo o funcionamento da T.S.F., e mandando castigar os infractores
Creio bem, no entanto, que nem tal "Decreto" existia, como medida geral, nem seria essa, realmente, a causa das apreensões de 1915 — que muito diversamente deve ter tido a sua justificação, conforme deixei demonstrado em razões de segurança de ordem interna e internacional, ligadas ao cumprimento da nossa multissecular Aliança e inerentes compromissos, para com a Grã-Bretanha.
Prosseguindo, portanto nas investigações destinadas à supressão da T.S.F. dos particulares, durante a conjuntura da nossa preparação naval, as Autoridades Policiais e da Marinha dirigem-se para a Rua de Bartolomeu Dias, a Pedrouços, onde Guardas e Marinheiros cercam e passam busca a uma segunda residência — esta no rés-do-chão do n.º 148 daquela rua de Pedrouços.
Naquela época eram ainda raros, conforme referi, os automóveis em Lisboa, constituindo invulgar e dispendioso desporto, e, assim a profissão de "chauffer", como então se dizia, tinha muito de desportivo e de cavalheiresco.
Ali habitava, precisamente, o "chauffer" e amador de automobilismo Alfredo de Campos Rodrigues, motorista particular de abastado cidadão de nacionalidade francesa naquela data ausente no estrangeiro — o Radioamador que logo declarou às autoridades possuir, além da sua qualidade de automobilista e de mecânico; óptimos conhecimentos e bibliografia sobre T.S.F., Ciência à qual se dedicava nas horas vagas com o maior entusiasmo...
Montara uma perfeita antena de recepção, que no início se julgara propriedade do francês, seu patrão, por se encontrar fixada numa das extremidades à residência deste, e dispunha de uma instalação receptora de Telegrafia Sem Fios de tão boa qualidade — dizia o jornal "O Século" — como a própria Estação da Marinha de Guerra do Arsenal, de Lisboa, inaugurada, salvo erro, nesse mesmo ano de 1915.
A Estação foi apreendida, seladas as portas pelo respectivo Regedor, e arreada a respectiva antena.
Interrogado, confessou este Radioescuta que havia três anos se dedicava ao estudo da T.S.F., desde 1912, portanto, e que o seu aparelho não fora anteriormente proibido de funcionar.
Dissera-lhe um Funcionário da Fiscalização das Indústria Eléctricas que não podia ser titular de uma Estação receptora de Telegrafia; multara-o, depois, um funcionário dos Correios em "vinte mil reis" (importância sobremodo avultada para a época) –, mas não desistira do seu interessado gosto pela T.S.F.
Sem desânimo no seu entusiasmo — que gostosamente se regista nestes breves apontamentos para a "História do Radioamadorismo Português" — Alfredo de Campos Rodrigues procurara então pessoalmente o próprio Administrador dos Correios e Telégrafos, que finalmente lhe dera autorização para a posse e utilização do "receptor" de T.S.F. na sua residência.
Mais tarde (e compreendemos agora que por força da necessidade do sigilo nas comunicações da Marinha) fora convidado a desmontar o Posto por ordem do Arsenal da Marinha, mas ignorava com que fundamento, pelo que mantivera a respectiva instalação autorizada pelos Correios e Telégrafos.
Declarou este Amador, finalmente, ser extraordinário entusiasmo pela T.S.F. em Portugal, pelo que tinha conhecimento da existência de numerosas estações idênticas – disse — "espalhadas com profusão desde a Junqueira até ao Dafundo".
Registo, com um certo pormenor, todos estes factos dos começos do Radioamadorismo em Portugal, quer porque nos elucidam quanto ao dedicado interesse destes primeiros interessados pela Ciência, e já então sem qualquer intuito lucrativo, quer porque nos permitem concluir da grande actividade dos Amadores de T.S.F. Portugueses, que imediatamente se seguiu a estas apreensões, e que determinou a primeira regulamentação dos Postos de T.S.F. dos Amadores em Portugal.

O TER CEIRO POSTO APREENDIDO EM LISBOA:
DO DISTINTO RADIOAMADOR DIONISIO DA CÂMARA LOMELINO

A última das Estações apreendidas, nesta verdadeira "ofensiva" da Armada contra a T.S.F. particular — então perfeitamente justificada pelas especiais razões que apontei, de sigilo quanto às manobras navais, mas cujo alcance era, e tinha forçosamente de ser, desconhecido do "grande público", — foi a do distinto Radioamador Dionísio da Câmara Lomelino, sobre cuja existência actual interroguei em tempos o Prezado Colega Rodrigues Júnior, CTIST, que me disse tratar-se de um de dois membros de uma mesma família sua conhecida, e parecer-lhe que ainda hoje se encontram ambos, felizmente, vivos e de boa saúde na Província...
Cumpre não confundir este Radioamador com um outro dos pioneiros da "velha guarda", que foi CT1CT, Óscar Gregório Lomelino.
De facto, segundo a reportagem da edição da manhã do jornal "O Século", de 31 de Julho de 1915, — "Fora descoberto, em Lisboa, mais um Posto de T.S.F.".
Guiando-me pela pormenorizada discrição daquele diário matutino, sucedeu que o próprio Director da Polícia de Investigação Criminal de Lisboa, ao tempo o muito distinto Magistrado Adolfo Coutinho, se dirigiu, no automóvel "770-S" da Polícia da Capital" (cujo número era publicado, pela raridade de tais veículos), se dirigiu — dizia — ao prédio n.º 48 da Rua do Ferragial de Baixo, "casa que faz esquina" — escrevia-se no "Século" — com uma mercearia para a Rua do Alecrim"...
Ali chegadas as Autoridades Policiais e da Marinha — pois encontravam-se presentes, além do Dr. Adolfo Coutinho, o Primeiro-tenente Serrão Machado, da Marinha de Guerra, muito distinto Oficial do Submarino "Espadarte",
O Agente Manuel Jorge, e o Guarda Gomes — foi descoberto mais um Posto de T.S.F. de Amador este proveniente da América do Norte, e igualmente de "detector de cristal’’
Verificou-se pertencer o aparelho a Dionisio da Câmara Lomelino, ali residente com sua família, — um Madeirense extremamente viajado, com estadias designadamente em África e nos Estados Unidos da América do Norte.
"Excêntrico" — dizia "O Século" — "pelo seu tipo de Americano’’, com a ‘‘cara rapada’’ (numa época em que geralmente se usavam barbas...) — verificou-se no entanto, imediatamente, ser "homem absolutamente de bem, extremamente considerado por todos, e cientista apaixonado"...
Numa época em que, além do mais, a Numismática e a Fotografia eram Ciências apaixonantes — o Dionísio da Câmara Lomelino não só coleccionava moedas como se revelava um Fotógrafo Amador competente e entusiasta...
Tenho designadamente em meu poder um Livro, que adquiri num Livreiro Antiquário de Lisboa, e que pertenceu a CT1DF — o saudoso Radioamador José Sanches Ferreira, apaixonado "veterano" — em que o Radioamador seu auto-relacionava, muito especialmente, o Amadorismo da Rádio com o Desporto da Fotografia — e ambos estes passatempos com o mais espiritual e louvável desejo de conhecimento e de confraternização entre todos os homens.
Independentemente da sua nacionalidade, raça, hierarquia, e até mesmo convicções religiosas — porque em todas as Religiões dos povos civilizados é comum a dedicação e o respeito por homens e animais — o Radioamador é por natureza altruísta e amigo de bem-fazer.
Assim, o autor do Livro a que me refiro, o Radioamador Espanhol da Ilha de Palma de Maiorca, D. Jaime Más Bauzá, ao tempo titular da Estação EAR 59, e detentor do Diploma W.A.C., comprovativo da comunicação bilateral com todos os Continentes, — escrevendo em 1931 esta obra, que intitulou "Vademecum del Radio-Aficionado" termina o referido trabalho por submeter as suas intenções às Autoridades Eclesiásticas da Ilha, de modo que o seu Livro, técnico traz significativamente o "Imprimatur" e a aprovação do Rev.º Padre D. Joaquim de Moragues, Censo da Companhia de Jesus, e bem assim de Sua Excelência Reverendíssima o próprio D. José, Arcebispo-Bispo de Maiorca.
CT1DF foi, como a seu tempo veremos, um dos mais dedicados Radioamadores Portugueses, durante o período da Segunda Grande Guerra Mundial, – e assim bem se compreende que sempre tivesse guardado este pequeno Livro — tão grande e significativo pela exteriorização das mais nobres intenções de progresso e de confraternização universal, do Radioamadorismo de todos os países civilizados.
Voltando porém, à história daquele outro Radioamador, de 1915, que foi Dionísio da Câmara Lomelino, Radioescuta e cultor da Fotografia, e às apreensões dos aparelhos de T.S.F., de Julho de 1915, — resta acrescentar que as autoridades realizaram a apreensão de mais aquele aparelho receptor, igualmente de "galena", que o seu proprietário adquirira nos Estados Unidos da América do Norte e que dali trouxera com o maior entusiasmo para Lisboa.
De casa deste Radioamador, seguiram as Autoridades para uma Quinta situada próximo da Cruz Quebrada, onde havia notícia da presumível existência de um outro "posto receptor" de T.S.F. — verificando-se, porém, que os dois fios condutores telefónicos de linhas paralelas, e aéreas, montados para a casa dos caseiros, haviam sido tomados por uma antena receptora bifilar de T.S.F.
Sanadas, mais tarde, — como veremos em continuação deste trabalho — todas as momentâneas restrições impostas à T.S.F. particular pela especial conjuntura internacional e pela necessidade de sigilo nas comunicações da Marinha de Guerra na sua intensa preparação para a defesa nacional — veio a ser este mesmo Dionísio da Câmara Lomelino um dos mais destacados "Radioescutas" portugueses, e um dos mais notáveis pioneiros do Radioamadorismo Nacional, naqueles tempos "heróicos" de 1915, que precederam a Rádio-Emissão, legalmente organizada, no nosso País...

A APARELHAGEM RECEPTORA DE DIONÍSIO DA CÂMARA LOMELINO EM 1916

As apreensões de 29 de Julho de 1915, apesar de determinadas — como vimos — por razões necessariamente ligadas à defesa nacional, ocasionaram uma intensíssima reacção de protesto dos Radioamadores Portugueses, que veio a determinar, mesmo durante a Grande Guerra, e logo após a entrada de Portugal na luta europeia em auxílio da Grã-Bretanha — a primeira Regulamentação dos Postos de Radioamadores Nacionais, em 1916.
Considerando, efectivamente, como insuspeitos e sobremodo úteis ao País, mesmo com a Nação em Guerra, os Amadores Portugueses da T.S.F. — o Governo Português veio a decretar em 1916 a permissão da posse e utilização de receptores de T.S.F. pelos Amadores, acto de confiança e de progresso em que Portugal teve a honra de preceder, mais uma vez, os mais edificantes exemplos do Radioamadorismo Internacional.
Veremos, nos capítulos seguintes, como se processou e desenvolveu e defesa do Radioamadorismo Português em 1915 e 1916 — e como tão brilhantes resultados devemos considerar ligados os nomes dos Eng.º Luís de Sequeira Oliva Júnior, defensor e promotor do Radioamadorismo em Portugal, e Eng.º António Maria da Silva, ao tempo Ministro do Trabalho e Previdência Social, devido a cuja iniciativa foi pela primeira vez regulamentado entre nós o uso de postos receptores radiotelegráficos pelos Amadores, por decreto n.º 2322, de 8 de Abril de 1916.
Numa ocasião em que Portugal se encontrava em estado de guerra, tornasse sobremodo honroso acentuar, nestes "Elementos para a História do Radioamadorismo Português", que o referido Decreto se encontra firmado pelas mais importantes e significativas figuras da História Nacional de 1916: Bernardino Machado, António José de Almeida, António Pereira Reis, Luís Pinto de Mesquita Carvalho, Afonso Costa, José Mendes Ribeiro Norton de Matos, Vítor Hugo de Azevedo Coutinho, Augusto Luís Vieira Soares, Francisco José Fernandes Costa, Joaquim Pedro Martins e António Maria da Silva...
São nomes que — portanto — ficam também ligados à História do Radioamadorismo Nacional.
Sem pretender antecipar, porém o muito que há a relembrar sobre aquela primeira "reacção" dos Radioamadores Portugueses (certamente excessiva, como reacção que foi, mas em todo o caso acolhida, como sempre, com a mais aberta compreensão pelo Governo Português) — não quero deixar este assunto dos Radioamadores Nacionais de 1915 sem algumas palavras mais acerca desse Radioamador estudioso que foi Dionísio da Câmara Lomelino:
Regulamentado o uso da T.S.F. pelos Amadores em 1916, Dionísio Lomelino veio a ser um dos "pioneiros" da "escuta" radiotelegráfica do Continente Português.
Publicando uma boa reprodução de uma fotografia, de Dionísio da Câmara Lomelino, o Eng.º Luís de Sequeira Oliva Júnior acentuava, no volume VII da "Electricidade e Mecânica", editado em 1916, mais os seguintes pormenores, relativos a este precursor da "Radioescuta" em Portugal, e a descrição de sua estação de Amador, que transcrevo inteiramente, como velha recordação e documento da T.S.F. portuguesa:
"A gravura junta" — diz o Eng.º Oliva Júnior – "mostra a reprodução de uma fotografia, muito original, em que se vê a mesma pessoa, Dionísio da Câmara Lomelino, entusiasta Amador Radiotelegráfico, à esquerda sentado à mesa, na posição de receber os radiotelegramas, com os auscultadores nos ouvidos; e, à direita, na posição de funcionamento do ressonador, para afinação do cristal de seu detector".
"Esta fotografia foi, ainda, feita pelo próprio Lomelino que, além de ser um apaixonado pela radiotelegrafia, também é um distinto fotógrafo amador, possuindo hoje a colecção mais completa de fotografias de amador em formato l8x24 cms, não só de Portugal Continental, mas também da Ilha da Madeira, e de S. Vicente, de Cabo Verde".
E, passando à discrição desta importante estação receptora de T.S.F. de 1916, o Engenheiro pormenorizava:
"O posto radiotelegráfico de Lomelino compreende urna bobina, de montagem em Tesla, um condensador fixo, um condensador variável rotativo, um detector "ferrom", self de antena, dois ressonadores de ensaio, sendo um para afinar os cristais e outro para aprendizagem de Morse".
"Completam o posto receptor um interruptor, uma bateria de pilhas secas e um potenciómetro, além da antena, e da respectiva ligação à terra"...
Saudosos tempos esses, de 1916, para todos os "pioneiros" do Radioamadorismo Nacional, — em que construíram detectores com a "massa da cabeça de fósforos", e em que, mais tarde, o grande Radioamador Eng.º Manuel Bivar construiu, em Macau, o seu primeiro receptor de Rádio... com uma lâmina de barbear e um condutor, segundo "receita" de uma Revista Americana.

II PARTE

ALGUMAS NOTAS SOBRE OS PRINCIPIOS DO RADIQAMADORISMO
EM PORTUGAL

O QUE É O RAOIOAMADORISMO:

Radioamadorismo — é o interesse pela T.S.F., sem fins lucrativos, quer seja no aspecto científico da sua técnica, quer sob o aspecto da recepção, seja ela radiotelegráfica, seja radiotelefónica, seja, ainda, neste último domínio, da escuta da radiodifusão, quer ainda, em terceiro lugar, sob o aspecto da emissão-recepção.

O PRIMEIRO PERÍODO DO RADIQAMADORISMO EM PORTUGAL:

Foi de interesse puramente cientifica, pela técnica da telegrafia sem fios.
Importante promotor do radioamadorismo neste período — foi o Eng.º Luís de Sequeira Oliva Júnior, a partir de 1909.
Em 1909 — este Engenheiro funda a revista "Electricidade e Mecânica", publicação quinzenal, de que foi Director e Proprietário. Editor: Sebastião R. Tenório Oliveira.
Em 1915 — A revista atinge o seu 6.º ano de publicação mesmo durante a Guerra Europeia de 1914-1918. Ainda não existia radiodifusão — só inventada em 1919-1920.
Usava-se a telegrafia — como legislação reguladora em todos os países, dando geralmente o seu monopólio ao Estado, como forma de troca de correspondência. Por isso a sua fiscalização, compete em geral aos Correios, Telégrafos e Telefones dos diversos países.

A EMISSÃO E RECEPÇÃO:

A emissão e recepção por particulares radioamadores eram proibidas pela legislação portuguesa de então. A tese da permissão foi defendida pelo Eng.º Oliva Júnior — constituindo o primeiro impulso do Radioamadorismo Português.
A recepção era em geral por aparelhos de detector de galena — primeiros que, segundo um trabalho publicado pelo Radioamador Rodrigues Júnior, se utilizavam em Portugal.

OS PRIMEIROS AMADORES RECEPTORES:

Em Portugal, a Marinha, Exército, Correios e Telégrafos — sempre admitiram, de facto (não obstante a lei proibitiva) os amadores receptores. A revolução de 14 de Maio de 1915 — derruba o Governo, por meio da intervenção da Marinha, chefiada pelo Comandante Leote do Rêgo. É morto o Comandante do Cruzador "Vasco da Gama" — Assis Camilo — por recusar aderir aos revoltosos. A tripulação adere à Revolução e o "Vasco da Gama" dispara os seus canhões sobre os Ministérios da Guerra, do Interior, da Marinha e da Justiça. O Almirante Xavier de Brito dá então ordem ao Comandante do Submarino "Espadarte", corno Ministro da Marinha, para torpedear o Cruzador "Vasco da Gama". Mas o Comandante Almeida Henriques, do "Espadarte", recusa, e o Governo cai, sendo preso o Almirante Xavier de Brito, que dera a ordem, e formado novo Governo. Tornam-se fundamentais para a nossa defesa marítima — nesse tempo — o "Vasco da Gama", cruzador, e o "Espadarte", então único submersível da Marinha de Guerra Portuguesa. Em 5 de Julho de 1915 — constitui-se a Divisão Naval de Defesa e Instrução — chefiada por Leote do Rego.
Leote do Rêgo resolve preparar uma manobra naval — para a nossa intervenção na Grande Guerra de 1914-1918, conforme veio a realizar-se.
É o Radioamador Hermano Neves — grande Jornalista — quem descreve a Revolução e as Manobras Navais, em artigos no Jornal de então ‘‘A Capital".
Em Junho de 1915 — os nossos navios começaram a ser empregados na vigilância dos submarinos alemães — e, no fim de Julho, realizaram-se as manobras navais.
Daí, certamente, a apreensão dos postos de amadores de Lisboa — que escutavam as comunicações dos navios entre si e com a Estação do Arsenal.
Como já referi, o jornalista e amador Hermano Neves fez a Reportagem das Manobras Navais, no jornal de então — "A Capital".
A primeira estação portuguesa ouvida no estrangeiro, e primeira comunicação com outro país, de uma estação metropolitana portuguesa.
A primeira estação portuguesa ouvida no estrangeiro foi a do radioamador Dias de Melo, segundo notícia da revista "Rádio Lisboa Magazine", n.º 15, sendo então o seu indicativo CT1AB.
Também a primeira comunicação bilateral da metrópole com o estrangeiro foi a da estação construída por CT1AB, com a estação francesa F8BF.
Este Radioamador, ainda hoje se dedica a interessantíssimas experiências em frequências ultra-elevadas — "Diário Popular" de 19 de Agosto de 1962.
A sua estação nessa primeira comunicação bilateral com a emissora francesa F8BF, foi operada por outro pioneiro do Radioamadorismo em Portugal — o Eng.º Manuel Bívar, hoje da Emissora Nacional, e que veio a ser director dos Serviços Radioeléctricos dos CTT.

OUTRO PIONEIRO — EP1AK

O Eng.º Manuel Bívar foi outro pioneiro do Radioamadorismo, dedicando-se ainda criança em Macau, à escuta da Telegrafia.
O seu posto, um dos primeiros da Metrópole, veio a ser EP1AK.
Em 1926, salvo erro de data, com uma simples lâmpada de recepção a oscilar no seu emissor — contactou o cientista tripulante de um dirigível, Norge, então voando sobre o Pólo Norte.
A segunda estação da Metrópole — foi EP1AA, de Abílio Nunes dos Santos Júnior, hoje CT1AA, proprietário dos Grandes Armazéns do Chiado.
Foi o introdutor regular da radiodifusão no Império Português — transmitindo durante anos, sem qualquer interesse lucrativo.
Daí ser-lhe atribuído o primeiro indicativo AA, como homenagem.
Veio a ser agraciado pelo Governo Português, pela sua dedicação e patriotismo.
Os primeiros Amadores costumavam reunir-se no estabelecimento da "Rádio Lisboa", na Rua de Serpa Pinto, n.º 7.
"Rádio Lisboa" passou a publicar uma Revista — "Rádio Lisboa Magazine", cujo n.º 1 data de 17 de Outubro de 1924, e o 21.º e último, de Junho de 1926.
É fundamental o papel desta Revista.
Outras revistas houveram de grande interesse, como "A TSF em Portugal", que publicou 55 números, até ser suspensa, em 1926.
"A TSF em Portugal" veio a publicar-se, em 2.ª série, sendo o primeiro número de Maio de 1929, sob o título de "Rádio Sciencia".
A estas revistas está ligado, como proprietário, Director e Editor, outro nome inesquecível – Álvaro Contreiras.
A primeira Associação Científica Portuguesa de Amadores foi a “Rádio Academia”, fundada em Setembro de 1923, por virtude do grande interesse pela Radiodifusão, inventada por um amador em 1919-1920.
Como não se conseguisse resolver o problema da criação da Radiodifusão em Portugal – dissidentes fundaram a “Sociedade Portuguesa de Amadores de TSF”, em 1925.
Foi primeiro Presidente da sua Comissão Fundadora, o grande jornalista e amador, que veio a falecer em 1929, Hermano Neves.
Em 1925, em Assembleia-geral de 29 ou 30 de Junho – dissolvia-se a “Rádio Academia”, por se reconhecer o valor da “Sociedade Portuguesa dos Amadores de TSF”, e se lhe dar inteira adesão.
Simplesmente em Portugal a situação dos Amadores Emissores, quer de Radiodifusão quer Experimental de simples comunicação – era uma situação meramente de facto, tolerada pelas autoridades, e não de direito.
Urgia regulamentar-se a Radiodifusão e criar-se uma Emissora Nacional.
E impunha-se a regulamentação dos Amadores Emissores Experimentais.
A “Sociedade Portuguesa dos Amadores de TSF” empenhou-se na radiodifusão.
Os Amadores Emissores tanto eram experimentais como de radiodifusão.
Surge assim outro acontecimento histórico: Revolução de Lisboa, de Maio de 1925, que teve larga repercussão no Amadorismo.
A Revolução tornou-se conhecida em França no seguinte aos acontecimentos – e alguém pensou, injustamente afinal, que os Emissores Amadores podiam Ter dado a notícia, que evidentemente não deram, pois nunca foram políticos.
No dia 29 de Julho de 1915 — surge uma notícia no Jornal “O Século”, edição da noite, sobre a descoberta de “estações clandestinas” em Lisboa.
Eram as dos Radioamadores — receptores — inocentes vítimas da legislação existente, e do seu mero interesse científico, pois sempre foram “apolíticos”.
Novas notícias surgem no “O Século” de 30 de Julho de 1915.
E novamente de 31 de Julho de 1915.

ACÇÃO DO ENG.º OLIVA JÚNIOR — E PERMISSÃO DO RADIOAMADORISMO:
Verifica-se, então, um forte movimento de simpatia para com os amadores-receptores portugueses.
Neste movimento, destaco a acção do Eng.º Oliva Júnior.
Este amador defende energicamente os radioamadores portugueses acusados de “clandestinos”, e a sua acção encontra-se registada quer na “Electricidade e Mecânica” quer no Jornal “O Século”, que transcreveu uma inolvidável carta de Oliva Júnior, em defesa da T.S.F. em Portugal
Deste movimento em defesa do Radioamadorismo, nasceu mais do que nos outros países da Europa — a permissão da recepção em Portugal, mesmo em plena Guerra de 1914-1918.
Surge, assim, a primeira regulamentação permissiva — mas só de recepção — por amadores particulares — pelo Decreto n.º 2322, de 8 de Abril de 1916, e Portaria n.º 660, de 26 de Abril de 1916.
Este facto constituiu inesquecível vitória da acção do Eng.º Oliva Júnior junto do Governo, criando-se assim a primeira forma de radioamadorismo em Portugal — a recepção autorizada da telegrafia sem fios, mesmo durante a Guerra Europeia.
Em 23 de Fevereiro de 1916, Portugal, acedendo aos pedidos da Inglaterra, requisitara os navios alemães fundeados em portos portugueses.
Em 9 de Março do mesmo ano, a Alemanha declarava guerra ao nosso Pais, — e, não obstante tudo isto, os Amadores Portugueses eram oficialmente reconhecidos e autorizados por lei — entre nós — em Abril desse mesmo ano de 1916, o que mostra o mérito dos Radioamadores Portugueses, e a forma como seus serviços eram considerados — então — da maior utilidade para o País e para a Ciência, mesmo em circunstâncias de Guerra.
Os primeiros Amadores Receptores de que tenho notícia documentada foram portanto os mencionados e publicados no Jornal “O Século”, de 29 de Julho de 1915, 30 de Julho de 1915 e 31 de Julho de 1915.
As apreensões destas estações receptoras produziram tais repercussões que nelas intervieram, além de outros o Comandante. Leote do Rêgo — que então verdadeiramente dirigia a Marinha — Tenente Serrão Machado, do submarino “Espadarte”, o Juiz de Investigação Criminal, os Agentes Figueiredo e Alfredo Maria, e o próprio Ministro do Interior.
E os Amadores acusados — e depois mandados em paz – foram: António Júlio Alves, Júlio Ribeiro de Campos, Carlos Augusto, João Correia, Alfredo de Campos Rodrigues, Dionísio da Câmara Comezinho.
SEGUNDO PERÍODO — DOS AMADORES EMISSORES:
O primeiro Amador emissor Português foi Alberto Carlos de Oliveira, que começou as suas experiências em 1912, e se tornou notável durante a Primeira Grande Guerra.
Por morte do Presidente da Direcção da Rede dos Emissores Portugueses, e cessação de funções do vice-presidente, exerceu de facto o cargo de Presidente da Rede durante parte da Segunda Guerra Mundial
Mas no Continente o primeiro Amador Emissor foi José Joaquim de Sousa Dias Melo — que começou suas emissões, com onda amortecida, em 1923, com o indicativo de
P 1 AA.
Entretanto em França usavam-se indicativos EF, significando Europa, França. E em Portugal passaram a usar-se EP 1 seguido de duas letras, significando Europa, Portugal
Tais indicativos vieram a ser aprovados no Congresso de Paris, promovido pela União Internacional dos Amadores de T.S.F., que teve lugar em 14 de Junho de 1925. As estações Europeias usavam E, as da Ásia A, as da América do Sul S, África F, etc.
Em 1924, José Joaquim Dias Melo passou a usar de onda contínua, e dada a influência da radiodifusão, inventada por um Amador em 1919-1920, também transmitiu música de discos

No dia 7 de Maio de 1925 eram selados pela Polícia de Segurança do Estado, por ordem superior, e com a maior delicadeza os Emissores de Lisboa.
P 1 AA – de Abílio Nunes dos Santos, na Av. António Augusto de Aguiar, 146, cujo proprietário se encontrava, por coincidência, na América.
P 1 AB — de José Joaquim de Sousa Dias Melo, gerente do Hotel Internacional, no Rossio, onde tinha seu Posto Emissor;
P 1 AC — de Eduardo Jácome Dias, sócio de “Rádio Lisboa”, Rua Serpa Pinto, 7, onde o posto foi selado;
P 1 AE, propriedade do Tenente Eugénio de Avillez Conde de Avillez, na Costa do Castelo, n.º 15;
EP 8 AM, propriedade de Maurice Mussche, na Rua Newton, n? 22.
O Tenente Eugénio de Avillez foi, como veremos, um dos Fundadores da “Rede dos Emissores Portugueses”.
E o posto EP 1 AC, de “Rádio Lisboa”, começara a funcionar, com óptimos programas de Radiodifusão, na última semana de Abril de 1925, propriedade de Eduardo Jácome Dias, grande Pioneiro da T.S.F.
Tomaram a defesa dos Amadores:
Eduardo Jácome Dias, no “Rádio Lisboa Magazine”
Engenheiro Manuel Bívar, então P 1 AK;
A Revista “A T.S.F. em Portugal”; etc.

No número de Junho de 1925 — do Rádio Lisboa Magazine” -vêm indicados, de uma maneira geral, os senfilistas mais entusiastas de 1925.
Defenderam os interesses do Amadorismo o jornalista e amador Hermano Neves e Comandante Nunes Ribeiro — vindo os emissores a trabalhar sob sua responsabilidade, inscritos como auxiliares da Marinha, de cujos Serviços de Rádio era Comandante.
Mas faltava a regulamentação e permissão legal.

CRIAÇAO DA “REDE DOS EMISSORES PORTUGUESES”

Sendo os interesses dos Emissores Experimentais de comunicações diversos dos da criação de uma Emissora Nacional — reuniram-se os Amadores Emissores num almoço em Novembro de 1926.
Resolveram desligar-se da “Sociedade. Portuguesa dos Amadores de T.S.F.” e constituir a “Rede dos Emissores Portugueses”.
Esta começou a funcionar em Dezembro de 1926.
O primeiro Boletim foi publicado em Março de 1927.
Foi um dos fundadores e primeiro Presidente da “Rede” o Tenente Eugénio de Avillez, Conde de Avillez, sendo a primeira Sede na sua residência, na Costa do Castelo, n.º 15, em Lisboa.
Foi reconhecida por A1vará do Governo Civil de Lisboa de 5 de Março de 1930.
Seguiu-se a regulamentação do radioamadorismo em Portugal, com expressa autorização do funcionamento dos Emissores de Amador, primeiro em radiodifusão não lucrativa, e em comunicações experimentais, mediante licenças separadas, e mais tarde permitindo-se a radiodifusão comercial particular, que assim já hoje nada tem que ver com o Amadorismo, dado seu carácter profissional lucrativo.
A legislação portuguesa sucessivamente publicada foi a seguinte:
Decreto-Lei. N.º 17.899, de 29 de Janeiro de 1930, sobre comunicações radioeléctricas;
Decreto-Lei. N.º 22.783, de 29 de Junho de 1933, sobre comunicações radioeléctricas e exploração de emissoras nacionais;
Decreto-Lei. N.º 22.784, da mesma data, sobre instalações radioeléctricas, distinguindo estações experimentais para comunicações bilaterais, e de amadores, estas podendo fazer, mediante licença, radiodifusão não lucrativa.
O Decreto-Lei. N.º 36.438, de 29 de Julho de 1947, veio regulamentar os Postos de Amador — que deixaram de dedicar-se à radiodifusão, a partir de então considerada lucrativa pela utilização da publicidade paga.
O Decreto-Lei. N.º 38.030, de 3 de Novembro de 1950.
O Decreto-Lei. N.º 39.034, de 15 de Dezembro de 1952.
O Decreto-Lei. N.º 45.642, de 6 de Abril de 1964; e Aviso da D.S.R. de 8 de Junho de 1964 completaram a distinção total entre postos experimentais de amadores, e estações comerciais de radiodifusão particulares — ‘mas sujeitas a legislação própria e diversa.
Sobre as estações que se distinguiram durante o ciclone de 1941 cerca de 25 Radioamadores. – Ver Cronologia, III Parte.

A melhor prova da consideração que o Governo Português sempre tem atribuído ao Radioamadorismo Nacional encontra-se — designadamente — na visita do Presidente da República a casa do Presidente da “R.E.P.”, então o tenente Eugénio de Avillez, tendo assistido a uma comunicação bilateral com as Ilhas Adjacentes, e enviado uma mensagem de congratulações aos Amadores Portugueses daquelas Ilhas, em 31 de Março de 1929.
E, desde então, diversas vezes tem o mais Alto Magistrado da Nação assistido a comunicações mostrando o maior interesse pelo Radioamadorismo, nomeadamente em diversas Exposições-Feiras Regionais.
E o louvor a. Abílio Nunes dos Santos Júnior, publicadp no Boletim da R.E.P. de Novembro de 1938 — distingue este Amador como o percursor da Radiodifusão em Portugal

Rocha Souto — CT 0 239 e CT 1 VP (1)

(1) — CT 1 VP, foi até pouco tempo atrás propriedade do radioamador Fernando Gamboa, profissional da Imprensa Diária, em Lisboa, meu colega no «Jornal do Comércio», falecido em 1994. A partir de 2000 (?)  já não é possível a atribuição de indicativos de duas letras.









CRONOLOGIA


1873     O físico James Clerk Maxwell (inglês) publica os primeiros fundamentos teóricos da Rádio, “Electricidade e Magnetismo”
1883     AUGUSTO C. BON DE SOUSA — “Memória Sobre a Telegrafia Eléctrica Militar” e “Tratado de Telegrafia de Sinais para uso no Exercito” — Exposição de Electricidade — Paris 1881.
1892     “O Ensino da Electrónica em Portugal”
1894     “Livro Elementar de Telegrafia Eléctrica”, de JORGE DA CUNHA.
1896     Marconi faz a primeira demonstração com seu telé­grafo sem fios atingindo 1400 metros.
1899     Primeira Comunicação sobre o Canal da Mancha.
1900     18 de Fevereiro — Inaugurada a primeira estação costeira alemã, na Ilha de Borkum.
               1 de Março — Primeira comunicação comercial por rádio com o vapor “Kaiser Guilherme”.
               1 de Outubro — Foi inaugurada a estação inglesa de Poldhu.
1901     1 de Fevereiro — É utilizada a rádio na viagem do duque e duquesa de York à Austrália.
               12 de Dezembro — Marconi recebe sinais de Poldhu na América. Era considerada impossível esta ligação devido à grande quantidade de água interposta, em linha recta, entre emissor e receptor.
1902     Simultaneamente, o professor inglês Heavside e o físico americano Kennelly expõem a ideia de que existem capas reflectoras na alta atmosfera, que têm permitido a Marconi vencer a curvatura do Oceano Atlântico.
               25 de Junho — É instalada num cruzeiro italiano “Carlos Alberto” o primeiro detector magnético Marconi
               22 de Dezembro — Marconi e o rei Eduardo VII inauguram o serviço radiotelegráfico através do Atlântico Norte.
1903     22 de Agosto — Marconi recebe diariamente notícias da imprensa na sua travessia pelo Atlântico a bordo do S.S.Lucania..
               22 de Setembro — Primeiro Serviço de Notícias da Imprensa para todos os barcos.
1904     16 de Novembro John Ambrose Fleming patenteia a primeira válvula electrónica diodo de vácuo.
1905     1 de Janeiro — Primeira mensagem procedente de barcos recebido na British Post Office.
1906     25 de Outubro — O norte-americano Lee de Forest solicita a patente da válvula de três eléctrodos, o audion, nos U.S.A.
1907     “A Telegrafia Sem Fios”, de Amadeu de Vasconcelos.
1909     29 de Setembro — Inauguração do serviço costeiro da General Post Office.
               Novembro — Marconi recebe o Prémio Nobel da Física.
               “Electricidade e Mecânica”, do Eng.º Luís de Sequeira Oliva Júnior.
1912     27 de Janeiro — O rei Afonso XIII inaugura a estação radiotelegráfica de Aranjuez.
               14 de Abril — “Naufrágio do Transatlântico” cujo radiotelegrafista, Jack Philips, manteve a estação em funcionamento até ao último instante, o que permitiu o salvamento de 700 passageiros. “Titanic”
               Maio — Aparece o primeiro radiotelegrafista Português, Carlos Alberto de Oliveira CT3AA — CT1DX.
1913     Meissener e Lee Forest descobrem e aplicam o circuito de reacção nas válvulas tríodos, que as converteram em geradores de ondas entremitentes.
               Naufrágio do “Volturno”, mais uma vez a telegrafia salva 500 passageiros.
1914     Surge a primeira Associação de Radioamadores — A. R.R.L. nos Estados Unidos da América — Hiram Percy Maxim, pioneiro do radioamadorismo.
1915     25 de Outubro — Provas de radiotelegrafia entre Arlington — U.S.A. e a Torre Eiffel.
               São proibidas as Estações de Amador de T.S.F., a fim de prevenir o sigilo das comunicações de guerra.
1916     Carlos Alberto de Oliveira (CT3AA) serve de posto intermédio, entre a esquadra britânica e o Almirantado (Atlântico Sul e Londres).
               Primeiro Regulamento dos Postos de Amador de T.S.F. em Portugal
               “Curso de Telegrafia Sem Fios, na Revista de “Electricidade e Mecânica”.
               Generaliza-se a radioamadorismo nos céus de Nova Iorque.
               28 de Julho — inaugurado o serviço de Imprensa através da Revista Americana “CQ”.
1917     José Joaquim Dias de Melo (CT1AB) inicia as suas transmissões em Lisboa.
1918     22 de Setembro — Realiza-se a primeira comunicação entre Carnarvon (Inglaterra) e Sidney (Austrália).
1919     Albino de Forjaz Sampaio, escritor, e o Comandante Vasconcelos — mais tarde director da Companhia Portuguesa Rádio Marconi — instalaram um posto emissor transportado ao dorso duma muar, na Serra de Monsanto; fazem a primeira emissão de T.S.F., a qual foi ouvida a bordo dum navio inglês, ancorado no Tejo, defronte do Terreiro do Paço, facto que causou sensação, segundo relato da imprensa no dia seguinte.
1920     Primeira estação de radiodifusão do Mundo — França
1921     O professor norte-americano W.G. Cady descobre as propriedades do cristal de quartzo como estabilizador das oscilações eléctricas em geral.
               Paul Godley, transportando um “potente” emissor, deslocou-se à Europa, proporcionando aos radioamadores americanos (30) este contacto de “longa distância
1922     7 de Agosto — Abertura da estação de rádio de Saint Assise — França.
               12 de Dezembro — É constituída em Londres a B.B.C., com o primeiro emissor de Radiodifusão.
1923     1 de Julho — É divulgada a Radiodifusão entre os amadores espanhóis; instalam a Rádio Ibérica e publicam a revista “Radio Sport”.
               Os radioamadores começam a explorar os 100 Metros.
               Setembro — fundada a primeira Associação científica portuguesa de amadores “Rádio Academia”.
1924     13 de Novembro — começa a actividade em 80, 40, 20, 10 e 5 metros. Amadores da Europa e Austrália em 40 metros, Telegrafia.
               23 de Novembro — Europa-Argentina em fonia.
               Por dissidências surgidas na Radio Academia, surge a Sociedade Portuguesa dos Amadores de T.S.F.
1925     8 de Fevereiro — trocam-se mensagens entre radioamadores da Europa e da Austrália em radiofonia.
               Com a participação de 30 Países e uma centena de radioamadores foi fundada a I.A.RU.
               25 de Outubro — são iniciadas as primeiras emissões regulares de radiofonia em Portugal pelo grande amador português, CTIA.A, Abílio Nunes dos Santos Júnior, tendo corno locutor CTICW, que durante mui­tos anos se fez ouvir.
               CT1AB comunica com F8BF (Pierre Louis) — Primeiro contacto além fronteiras.
               30 de Junho — dissolve-se a “Radio Academia”.
1926     17 de Janeiro — Faz-se a primeira demonstração de Te1evisão (Bird).
               25 de Outubro — É inaugurado o serviço comercial com antenas dirigidas “beam” entre a Inglaterra e o Canada.
               “A Telefonia e Telegrafia Sem Fios para Amador”, Primeira Edição, de Luís Sequeira Oliva Júnior.
               Intervenção dos radioamadores no furacão na Flórida.
               Dezembro — Formação da REP.
1927     A American Telephone & Telegraph Co. — Televisão com e sem fios.
               Intervenção dos radioamadores nas inundações do Mississipi e da Nova Inglaterra.
1928     Maio — Primeira Lista de Indicativos publicada pela revista “Radio Sciencia”.
               Segunda edição de “A Telefonia e a Telegrafia Sem Fios”.
1930     Inicia-se a publicação da revista Radiofonia, diri­gida e editada por Artur Andrade, CT1EF.
1931     Rádio Club da Costa do Sol passa a chamar-se Radio Clube Português.
               Abílio Nunes dos Santos é eleito, por aclamação, sócio honorário daquela emissora.
               Abílio Nunes dos Santos recebe a Comenda de Mérito Agrícola e Industrial pelos relevantes serviços prestados em prol da T.S.F. em Portugal.
               CTIDH — Emite das 12 h e 30 m às 14 h e 30 m.
               CTIBM — Pede informações das condições das suas emissões.
               Intervenção dos radioamadores nos terramotos da Nicarágua e da Nova Zelândia.
1932     Abril — É assinado o contrato de adjudicação da Emissora Nacional: 20 KW, antena com 100 metros de altura, alcance 150 quilómetros.
               Primeiro Congresso Radiofónico Português — iniciativa de “O Século”.
               Maio — Assembleia Geral da R.E.P.
                   O Presidente da As. Geral, Jorge Botelho Moniz, apresenta uma proposta para associar a R.E.P. ao R.C..P., alugando uma sala e contrata um empregado (pretexto a irregular publicação dos Boletins).
                   A propósito refere-se intervenção significativa de um Radioamador: “Como a Alemanha sonhava com a hegemonia sobre a Europa, o Rádio Clube Português, representado pela inteligência fulgurante de Botelho Moniz, quer monopolizar todas as demonstrações vitais de união radiófila’. “Que espere o Sr. Botelho Moniz, porque ainda é cedo’
               “Electricidade e Radiofonia” de Henrique de Carvalho.
               Primeiro Congresso Internacional de Radiotelegrafia.
1933     Agosto — Aparelhos de radio para automóveis.
               29 de Junho — Regulamento de T.S.F. (Decreto-Lei N.º 22.783).
               Setembro — Curso de Morse emitido pela Rádio Condes. instrutor Manuel Torres.
               Terramoto na Califórnia.
               Introdução do super-heterodino, melhoria substancial na selecção das estações da sensibilidade e da qualidade de som.
1934     Abril — CT1AA encerra as suas emissões.
1935     Entra em funcionamento a Emissora Nacional.
1936     CT1ZA, Goodfery Pope, 1.ª estação de amador móvel.
1939     21 de Setembro (Decreto-Lei N.º 29.937) — suspensão do funcionamento de todas as estações emissoras de amador.
1940     21 de Janeiro — Inicia-se a publicação no semanário “Radio Nacional” de uma pagina dedicada ao Radioamadorismo, gentileza da Emissora Nacional de Radiodifusão e da Empresa proprietária do “O Jornal do Comércio e das Colónias”.
1941     15 de Fevereiro — Ciclone. Mais uma vez os radioamadores portugueses (25) substituem as comunicações oficiais.
               20 de Julho — Depois de 62 números deixa de se publicar a pagina de radioamadorismo, no semanário “Rádio Nacional”.
1945     Miniaturização dos componentes.
1947     Junho — Termina a proibição de funcionamento das estações emissoras de Amador por motivo da Segunda Grande Guerra.
               29 de Julho — (Dec.-Lei N.º 36.438) Publicação do Re­gulamento das Estações de Amador, começa assim, a obrigatoriedade de ser sócio da Rede dos Emissores Portugueses, até 1974.
1948     Invenção do transistor, miniaturização dos aparelhos de radio. Introdução do FM e da Stereofonia.
1949     CTIAC e CTIST salvam os aviadores Giovanni Brandello e Camilo Barioglio, quando efectuavam a travessia do Atlântico para recolher fundos para a Casa dos Rapazes Abandonados de Turim.
                   Por este feito CT1AC foi castigado com seis meses de suspensão, por ter saído da frequência, e condecorado pelo Governo italiano.
               29 de Julho — Rádio Altitude começa oficialmente a funcionar muito embora desde 1946 fizesse emissões experimentais pela orientação de José Maria Pedrosa.
               Subminiaturização de componentes.
1951     15 de Maio, pelas 12 horas, dia da Festa de Santarém, CT1QA dá início às Emissões de Radio Ribatejo com o Fandango do Ribatejo.
1952     Criada a Liga de Amadores Radio de Angola (Lara)
1953     A L.A.R.A. filia-se na IARU. Esta filiação fez-se sem que a R.E.P. tivesse conhecimento. Foi a I.J.R.E. Associação Espanhola, que ao pedir a nossa Associação o seu parecer lhe apresenta o insólito acontecimento.
1956     4 de Setembro — A R.T.P. inicia as suas emissões a partir dos estúdios instalados na Feira Popular de Palhavã.
                   Adriano Paiva ao apresentar o primeiro trabalho sobre a comunicação da imagem à distância, torna-se em 1877, o inventor da Televisão.
1958     Capthorne Mac Donald utiliza pela primeira vez o sistema de transmissão por varrimento lento (slow scan)
1961     12 de Dezembro — Lançamento do primeiro Satélite de Amador “Oscar I”.
1962     6 de Janeiro — Lançamento do “Oscar II”.
1965     9 de Março — Lançamento do “Oscar III”.
               21 de Dezembro — Lançamento do “Oscar IV”.
               Primeiro Centenário da Fundação da ITU (Unido Internacional de Telecomunicações).
               Os radioamadores portugueses fazem os primeiros contactos em 144 MHZ para além fronteiras.
1967     25 de Novembro — O temporal que se desencadeia leva à intervenção dos radioamadores nas zonas afectadas.
1972     Bardeen que, com Brattain e Shokley, havia já sido galardoado com o Prémio Nobel da Física em 1956, volta agora a receber o mesmo prémio, o que acontece pela primeira vez na história deste galardão.
1974     7 de Novembro (Decreto-Lei N.º 594/74) — Com a liberdade de Associação, termina a obrigatoriedade dos radioamadores serem sócios da R.E.P.
1975     17 de Julho — Fundação da Associação de Radioamadores Portugueses, na cidade do Porto, com esta segunda representante de radioamadores inicia-se o processo da “descentralização”.
1976     19 de Janeiro — Faleceu o cientista japonês Hidetsu Yagi, cujo nome ficou ligado a um sistema de antenas da sua invenção Antena Yagi.
1980     1 de Janeiro — Sismo dos Açores. Os radioamadores portugueses, por impossibilidade dos sistemas oficiais, asseguram as comunicações entre aquela região autónoma, o Continente e o resto do mundo.
1981     12 de Novembro — A Associação de Radioamadores da Amadora-Sintra é uma realidade.
               5 de Dezembro — Primeira Assembleia Geral da A.R.A.S., com a adesão de 57 radioamadores.
               23 de Dezembro — Com o Número Um inicia-se a publicação da Folha Informativa Técnica.
1982     28 de Fevereiro — Distribuição da Lista de Indicativos com todos os radioamadores nacionais até esta data, juntamente com a 2.ª Folha Informativa Técnica
               4 de Abril — A ARAS participa na reunião das Associações, convocada pela R.E.P., sendo a única a apresentar uma proposta de trabalho.
               Pedido de licenciamento do R 7, na Serra da Arrábida que ficara entregue à Comissão de VHF da ARAS.
               23 de Abril — Participa na reunião das Associações em Leiria tendo sido indicada para presidir aos trabalhos.
               Por proposta aprovada pelas Associações é eleita para com a R.E.P. elaborar a proposta final do Regulamento o que acaba por fazer sozinha, por incapacidade da REP.
               Elaborou e distribuiu pelas Associações um projecto de VHF Nacional.
               5 de Junho — Iniciou as Emissões em VHF e HF com o indicativo especial de CS1AAS.
               18 a 27 de Junho — Organizou a Primeira Exposição Retrospectiva do Radioamadorismo Nacional, integrado nas comemorações do 2.º Aniversário da Freguesia da Venteira; (onde está localizada a Sede) sob o “slogan”, “70 anos ao serviço da Humanidade e das Telecomunicações”.
               Publicou e distribuiu, profusamente, e pela primeira vez, um conjunto de trabalhos existentes sobre a História do Radioamadorismo.
               Vai distribuir no próximo mês de Julho a 4.ª Folha Informativa e Técnica