sábado, 14 de maio de 2011

Palácio de Cristal e o Radioamadorismo

O meu primeiro convívio de radioamadores
Estávamos no ano de 1964. Como me pareceu ser habitual (nunca indaguei se assim era), realizou-se mais uma Feira Popular, no Palácio de Cristal, na cidade do Porto (hoje Pavilhão Rosa Mota).
Na última rua da Feira, já na vertente para a Rua da Restauração, sensivelmente a meio, estava o pavilhão dos Radioamadores.
Os grandes entusiastas desta iniciativa foram os jovens: CT1BH, CT1WB, CT1IK, entre outros.
O pavilhão teve a visita de muitos radioamadores, muitos curiosos e do Presidente da República, para além de individualidades do Governo e Autárquicas.
Mas, o mais importante, para mim, foi o almoço-convívio, que reuniu grande número de radioamadores de todo o País. Deste número quero destacar o grupo dos «Kapa-Marretas», encabeçados pelo CT1KM, homem de uma frontalidade radical que em todas as Assembleias da REP marcava presença, tendo, numa delas, feito um discurso, só com termos da Marinha. Lembro que anos depois vim a conhecer o sobrinho, que com ele viveu, e que também se fez radioamador, o CT1BWI (o Júlio César), meu bom amigo e colaborador nos princípios da Associação de Radioamadores da Amadora-Sintra.
Fiquei, na mesa, entre o CT1EE e o CT1OZ, em frente ficaram, o CT1LD, o jovem Mário Rocha Alves, seu filho, e  que, após o falecimento do pai, passou a usar o mesmo indicativo; o CT1DT, que me impressionou pela altura e pelo bom humor e o CT1CC.
Vim a saber, mais tarde, que o CT1KM estava de relações cortadas com o CT1CC, porque este, uma noite, já a desoras, encontrando o CT1KM, em 80 metros, o fez saber que tinha estado a falar com o CT1DJ e, de repente, quando este estava a transmitir, ouviu um grande estrondo, nada mais se ouvindo, pelo que depreendia que se tinha passado algo de muito estranho e que, infelizmente, não tinha carro, porque senão já estaria a caminho do Estoril, onde o DJ morava.
Ouvindo isto o CT1KM, sem mais delongas, meteu-se no carro em pijama e roupão, e de imediato galgou os quilómetros que separavam a Infante Santo do Estoril. Chegado a casa do DJ bateu à porta. O CT1DJ, acordou assustado, pelo adiantado da hora, levantou-se e abriu a porta da rua, deparando com o CT1KM, que em traje de noite, lhe contou a conversa que tinha tido pela rádio com o CC.
O CT1DJ que conhecia bem o CT1CC, largou a rir e, com o ar bonacheirão, que lhe era habitual, disse: Ó KM então você não conhece o barreteiro do CT1CC? Como é que você caí, que nem um patinho, na conversa dele?
O CT1KM furioso, regressou a casa, jurando que nunca mais falaria ao CT1CC, e assim  aconteceu.
Mas voltemos ao Palácio de Cristal.
Antes do almoço e como havia chegado cedo, decidi aproveitar a oportunidade para fazer alguns contactos, uma vez que a estação disponibilizada para a Feira tinha uma potência de 1 KW, o que era, para a época, invejável.
Quando já tinha feito alguns contactos, chegou um radioamador (cujo nome não vou mencionar, pelo imenso respeito que hoje tenho por ele) que me abordou, chamando-me a atenção de que não podia usar aquela estação, uma vez que a carta de amador que possuía não autorizava, quer a potência quer a frequência.
Ora, acontece, que já havia feito exame para a categoria C, meses antes, e a DSR tinha-me enviado a respectiva carta, pelo que fiz saber ao interpelante que, com a categoria C, poderia operar aquela estação.
Dias depois, recebi uma carta, particular, do Eng.º Patrício, então chefe da secção que atribuía as cartas de amador, na DSR, pedindo-me para lhe enviar a carta de amador da categoria C, alegando ter havido engano e fazendo-me saber que estava em jogo o seu emprego.
Escusado será dizer que nesse mesmo dia, em carta registada, fiz seguir a respectiva carta para a DSR, ao cuidado daquele funcionário, informando-o que o radioamadorismo eram «hobby» e, como tal, incompatível com a situação que colocava em perigo o seu emprego, disponibilizando-me para tudo o que fosse necessário a bem da sua situação futura.
(Abro aqui um parêntesis para informar os meus leitores - tal como já relatei anteriormente -  que a minha entrada para o radioamadorismo só foi possível pela intervenção de um oficial superior, colega de meu pai e muito amigo, que conseguiu desbloquear a autorização para fazer exame de radioamador, uma vez que, apesar de todos os meus esforços, não consegui, através dos meios habituais, fazer que a PIDE, que era o crivo de entrada para a modalidade, despachasse o meu pedido, que antes seis meses tinha dado entrada naquela polícia, da Rua do Heroísmo).
Tempos depois voltei a fazer exame tendo o cuidado de não sair do Alto da Maia sem ver analisada a minha pauta e me ser transmitido de que tinha feito o suficiente para ser aprovado.
Logo depois, a convite de um periódico de Lisboa, deixava a cidade do Porto, não sem uma profunda saudade, pelas amizades que, quer a nível profissional quer no Radioamadorismo, deixava para trás, sabendo de antemão que a minha actividade de radioamador iria sofrer um  interregno.




Sem comentários:

Enviar um comentário