domingo, 15 de maio de 2011

Mais um documento para a História do Radioamadorismo (1982-2005)

«DE ESPANHA... NEM BOM TEMPO NEM BOM CASAMENTO»


Transcrevemos, na íntegra, e naturalmente traduzido, um artigo publicado no Boletim da URE, da autoria do seu presidente Belay Pumares, EA1RF, o mais que famoso dinossáurio das associações de radioamadores pela sua adaptação a quaisquer circunstâncias, desde que acolham os seus interesses, talvez uma deformação que tem origem na sua profissão -(como temos saudades do seu antecessor... por ser tão diferente, para excepcionalmente melhor) - de quem os portugueses, aqueles que conhecem o seu lugar e sempre souberam trilhar o caminho da decência e da educação, têm más recordações. Naturalmente que também há, como não podia deixar de ser, aqueles pescadores de águas turvas, que ingenuamente ou de intenções pouco claras se subalternizaram às boas falas, às grandes promessas e à espaventosa futurologia daquele nosso colega dalém fronteiras. Lembramos, apenas como exemplo, uma das últimas: uma espécie de «sociedade» para a feitura do Boletim da URE, com distribuição a todos os sócios da REP... e não sei quantas mais vantagens, que, como tantas outras, não passaram de simples miragem, mas que, na altura, não deixaram de surtir os bons efeitos de apoio e dar ares de grande dinâmica ao então presidente da nossa ingovernável, bolorenta e miguelvasconcelista associação «nacional».
Se na altura em que utilizamos, pela primeira vez, aquela «palavra selvagem» da língua materna, nos ia caindo o Carmo e a Trindade, com o cair da máscara do actual presidente da URE, fica confirmado que, como sempre, tínhamos razão.
Mas, ultrapassemos os entretantos e entremos nos finalmente..., aqui vai o famoso escrito:

 

A IARU E A COMUNIDADE EUROPEIA


Quando as estruturas associativas internacionais de radioamadores vêm sendo apelidadas de obsoletas, enferrujadas, paquidérmicas, etc., como é o caso da IARU, Região I, e os seus dirigentes continuam na sua teimosia, sem pestanejar, sem um só gesto que não seja entrincheirar-se e manter o poder pelo poder em si, pouco ou nada se pode fazer, e para não provocar vergonhas, alguns começam a ter vontade de ficar em casa, evitar o oneroso custo das viagens e a semana de aborrecimento no hotel onde o colocam. Porque não pudemos duvidar que a existência da IARU (a que reúne as três regiões do mundo) é imperativamente necessária porque dela dependemos. Esta IARU, que é sustentada basicamente pela ARRL, e está certo que seja assim, e como consequência, a influência da associação americana bem como as suas recomendações para o resto do radioamadorismo sejam obrigatórias. As restantes regiões e as associações que as compõem «nos» deixamos dirigir e aceitamos as directrizes que vêm da ARRL, pois são elas que têm o verdadeiro peso e influência perante a União Internacional de Telecomunicações (ONU para que nos entendamos) e enquanto for assim, continuamos a dispor das nossas bandas.
Mas o Mundo «mundial» evolui e adopta algumas particularidades que, em 1925, quando se organizou esta mega associação, não se previa, nem se pensava, que viessem a existir. Refiro-me à União Europeia.
Há anos, a UBA, que correspondente à URE, na Bélgica, apresentou uma moção, na agenda da Conferência da IARU, Região I, que mereceu o apoio de bastantes associações, entre elas a nossa. Tratava-se de criar, dentro da IARU, Região I, uma associação das associações dos Estados da União Europeia. Aquela ideia caiu que nem uma bomba na Conferência, porque o poder é exercido pela RSGB, com o apoio das associações de Estados mais pequenos, própria Bélgica, Holanda, os países nórdicos, os africanos, etc., e como já expliquei nestas páginas, o financiamento corre a cargo da DARC (Alemanha, em quase 50%, e a própria RSGB (Grã-Bretanha), URE (Espanha), ARI (Itália) e... o resto em pequenas quotas. Se se formasse uma nova associação dentro da IARU, Região I, era evidente que as principais associações europeias, e por elas as que mais contribuem para o seu financiamento, acabariam fazendo o que faz a ARRL, nos Estados Unidos, dar dinheiro e mandar.
O voluntarioso presidente da UBA, quando dispunha do apoio das principais associações do centro e sul da Europa, não se sabe bem como, retirou todo o projecto e aceitou ser presidente de um novo grupo de trabalho que se chamou «Eurocom», dentro da IARU, Região I, que veio a ser assim algo como uma vacina que desactivou a febre dos euroconvencidos.
Este acontecimento deu-se há seis anos. Hoje, o avanço da europeização é patente em torno do movimento de cidadãos, capitais, fronteiras, comércio, multinacionais, entidades financeiras... e, incluindo, os residentes estrangeiros, podendo até eleger um presidente de Câmara. Não, não me esqueci e, ainda, para além de tudo isto, o Euro.
E o que se passou com as associações de radioamadores? Nesta altura, se o presidente da UBA não tivesse voltado atrás, disporíamos de uma associação marcante da U.E., que já teria seis anos, tratando que todos os radioamadores de todos os Estados que a formávamos tivessem as mesmas regras de jogo, isso, por exemplo. Mas mais remetidos ao nosso meio e nas consequências que a U.E. provoca, na JD, prometemo-nos mudar um critério que sempre mantivemos dum modo absoluto: todo o colega estrangeiro que quisesse ingressar na URE e receber os nossos serviços no seu país de origem, primeiro teria que ser sócio da associação do seu país. Desta forma, tratamos sempre de evitar que os «zangados» com os seus dirigentes ou com as suas associações, viessem a «servir-se» da troca de QSL pela porta do cavalo. Isto fez apesar da RSGB se ter mostrado sempre pouco escrupulosa nesta matéria.
Entendemos, na JD, que as circunstâncias agora são outras: um português, por exemplo, é um cidadão em igualdade de condições e direitos que um francês, um alemão ou um espanhol, e como não há fronteiras, o facto de viver em Espanha, ou em França ou em Portugal, vem a ser uma circunstancia como se vivesse na Galiza, nas Canárias ou em Aragão. Assim, não só não há obstáculo algum para que seja admitido como sócio da URE, mas um direito exactamente igual ao que exerce um castelhano, um canarino ou um andaluz e o mesmo acontece quando alguém pretende ingressar na URE, mesmo que seja um sócio colectivo, ou seja: um clube.
Temos pedidos de filiação? Pois temos, muito essencialmente dos nossos irmãos de Portugal.
                     Gonzalo Belay Pumares – EA1RF (Presidente da URE)
(Artigo traduzido da Revista da URE, da secção – QRX... Por favor)

Muito poderíamos dizer comentando esta miraculosa visão, que vem na linha do que há muito os portugueses conhecem e se habituaram a tropeçar, no comércio, na indústria e nas finanças.
Não vale a pena determo-nos em grandes considerandos, bastará tão somente lembrar que o presidente da URE não está, nem mais nem menos, do que a capitalizar o descontentamento que reina nas nossas hostes, no confronto imperioso com a arrogante e retrograda Rede dos Emissores Portugueses.
Não arrepie caminho a dita cuja associação nacional e não tardará que siga o mesmo caminho do malfadado cartão de QSL – 90% dos radioamadores nem sequer sabe que alguma vez existiu – com que sempre tentou subjugar os radioamadores portugueses, que usando a liberdade associativa deixaram de ser sócios e se mantiveram independentes ou se filiaram nas ditas – apenas no critério do mandante da REP – associações regionais, acabará por ser a sua própria morte, acompanhando os muitos cartões que recebeu e não distribuiu e que por ocuparem espaço necessário para outros documentos, quiçá menos importantes, seguiram o caminho do lixo urbano.
Mas... nós, que nos temos preocupado tanto com a tradição dos radioamadores e tentamos a todo o custo preservar a nossa identidade nacional e, porque não dizê-lo, salvar o que ainda resta da dignidade de um tempo passado, não estaremos, como nos dizia alguém, a chover no molhado?
Fica ao vosso critério julgar da razão desta nossa luta, porque a nós vai restar, de futuro, o silêncio, porque não queremos assistir, como vem sendo visível noutros campos, à entrada repetida dos Filipes, à nascença de novos Condes de Andeiro e ao multiplicar dos Miguéis de Vasconcelos...
 Carpent tua poma nepotes (o homem não deve pensar só em si e no presente, mas também nos descendentes, plantando, para que aqueles possam gozar do fruto do seu trabalho).
O Radioamadorismo não pode servir hoje de armadura para a vingança de quem serviu o antigo regime e tomou o caminho do Brasil apenas pelo peso que lhe ia consciência, de quem, mercê da queda do mesmo, foi colocado à porta das instituições de que se serviram, compete-nos denunciá-los para que não seja possível a sua consumação, de nada nos servirá depois da morte que recebamos por herança os «trinta dinheiros». O dinheiro que, muitas vezes, os ditos «beneméritos» dão, sob a capa de salvar e manter a continuidade de algumas associações, alardeando aos quatro ventos o seu gesto, para que se lhes agradeça e mantenha viva a subserviência de quem devia pagar e não paga, destituindo as direcções que lá colocaram, porque não foram, a partir de determinada altura, seus serventes, e arregimentando outros, que a esforço, lá vão trocando a sua vontade pela do «mestre» que tudo paga... desde que... Se mantenha a indispensável obediência – passando ao lado da vergonha que qualquer associado deveria ter de não ser capaz de sustentar a sua própria «família» endossando a responsabilidade – não é mais do que ir preparando, a compasso e premeditadamente, a sua destruição.
O futuro, esperemos, que não fale por nós e nos venha a dar razão. Às associações de radioamadores, em primeiro lugar, e aos radioamadores, depois, pedimos, que ainda que as vossas razões sejam muitas e que a vossa descrença tenha atingido o limite, não se filiem na URE e mantenham a luta no sentido de manter invulnerável a nossa identidade nacional e o nosso orgulho de ser Português. Não é abandonando e virando as costas que se ganham as causas.
Confiamos em todos, esperamos mesmo que os inimigos reconsiderem e recuem nas suas intenções. O País merece e nós, todos nós, dignificaremos os nossos antepassados, que deram o seu melhor para que hoje pudéssemos usufruir de todo o enorme espectro radioeléctrico que por direito conquistaram. Este é o nosso mais ardente voto...

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