domingo, 8 de maio de 2011

O Início de uma realização no radioamadorismo

                                                               Capítulo I
O Dia mais feliz da minha vida de radioamador
Muito embora a minha experiência tivesse sido iniciada a «bordo» da estação do CT1IQ, estava muito longe de abarcar todo o mundo de objectivos que se me colocavam conforme ía avançando na leitura das revistas e livros que o mercado me disponibilizava e descobria, umas vezes por indicação de colegas mais experientes outras pela investigação que fazia nos contactos com colegas americanos -  para mim e nos longos anos de actividade, os mais indicados pela incrível facilidade de aquisição de componentes quer pelo preço quer pela diversidade - foi assim que fui caminhando na construção de novos equipamentos e antenas, aproveitando a facilidade das minhas constantes viagens por alguns países onde sempre aproveitava algum tempo livre para visitar estabelecimentos de componentes de electrónica, com especial incidência nos que se dedicavam quase em exclusivo ao Radioamadorismo. Não raras vezes aqui encontrei colegas com quem travei conhecimento e que daí em diante passaram a fazer parte do meu dia-a-dia de contactos. Seria fastidioso para quem tem a paciência de ler estas minhas memórias suportar a longa lista de nomes e indicativos que fui coleccionando, principalmente nos primeiros dez anos de actividade.
Decorria o ano de 1963 quando tive conhecimento que na vila, no interior de Angola, onde o meu irmão era Administrador de Concelho existia um radioamador. O meu posto emissor (DX60, HR10 e um HG10 da Heathkit), embora de razoável qualidade, para a época, não se mostrava suficiente para atingir as longínquas terras da África Equatorial. A luta começou, sem tréguas, tinha de atingir o Golungo Alto (assim se chamava a povoação onde o meu irmão se encontrava) sem demora. Depois de ter experimentado todo o tipo de antenas que os colegas mais experientes me aconselhavam, sem sucesso, eis que uma noite, consegui falar com o W6SAI, William Orr, por conselho do eng.º Maxwel, à altura a desempenhar funções na NASA. A conversa não foi longa, o suficiente para lhe dizer das minhas intenções e das dificuldades com que estava a deparar (esquecia-me de esclarecer, para quem não viveu aquela época, que aquele prestigiado radioamador era considerado um dos maiores investigadores na área das antenas e, a partir do início da década de70, publicou, para além da colaboração em diversas revistas da especialidade, com destaque para o QST, seis volumes a saber: «All About Cubical Quad Antennas», « Beam Antenna Hanbook», «The Truth About CB Antennas», VHF Handbook for Radio Amateurs», «Care and Feeding of Power Grid Tubes» e, por último, «Better Shortwave Reception»). Foi o que se chama uma noite feliz. Aquele colega, de imediato se prontificou a mandar-me tudo quanto tinha a propósito do que de melhor ele havia realizado: nada menos do que um estudo completo sobre a antena «Cubical Quad».
De posse deste excelente estudo e adquirido o material para a sua construção (as canas da índia, com 4 metros,  foram adquiridas no horto do Alto da Maia (Ermesinde) e tratadas por um especialista na construção de canas de pesca) convidei dois colaboradores habituais nestas andanças (um marceneiro muito criativo e um ajudante do matadouro do Porto que, para além do físico e de uma força invejáveis, era um ser humano de grandes qualidades). Contactado o Comando da GNR local, lá consegui que nesse dia o trânsito fosse desviado da Av.ª de São Lourenço, onde residia, deixando-me espaço para montar as duas cruzetas com 7,5 metros e onde haveria de implantar três quadrados de fio entrançado,  em cada uma delas, sendo o maior de 5,36 de lado e, o mais pequeno, de 2,5 metros. O tubo de 2 polegadas com 6 metros já se encontrava no interior de um outro com 3, com o mesmo comprimento, tendo, no seu interior, dois rolamentos e no topo, um outro, que faziam deste conjunto o indispensável movimento de 360º para rodar, desde o «shack», a antena. Colocada aquela monstruosidade no topo do telhado e com a ajuda do CT1IQ, que na sua estação, a pouco mais de 1 km, me ía dando os resultados das alterações, enquanto procedia às afinações. Primeiro, a operação para eliminar as estacionárias, colocando os irradiantes nas frequências que mais me convinham; depois, e esta a mais difícil, curto-circuitar os «stubs» do reflector para obter a maior relação frente/costas e o maior ganho frontal, o que foi conseguido ao fim de 4 horas.
No dia seguinte, como foi gratificante todas as despesas feitas e todo o trabalho a que fomos obrigados, o radioamador do Golungo Alto, com o meu irmão e a família a «bordo», escutou-me com sinais fantásticos (5-9 a 5-9+10), possibilitando-me o dia mais felizes da minha vida de radioamador.

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